Deuteronômio 11.18-21,26-28

Auxílio Homilético

09/06/1996

Prédica: Deuteronômio 11.18-21,26-28
Leituras: Romanos 3.21-25a, 27-28 e Mateus 7.21-29
Autor: Antônio L. João
Data Litúrgica: 2º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 09/06/1996
Proclamar Libertação - Volume: XXI

 

1. Introdução Geral

O livro de Deuteronômio se apresenta para os/as leitores/as de hoje na forma de um discurso de despedida; basta abrirmos a Bíblia em Dt e perceberemos que o livro está dividido em três discursos de Moisés. O povo deveria conhecer todas as leis para as cumprir na terra prometida, que estava prestes a conquistar.

O texto para nossa prédica está situado na parte principal do livro, i. é, no corpo do livro, que abrange os caps. 5 a 28. Em linhas gerais, podemos dividir Dt da seguinte maneira:

Caps. 1-4: introdução.
Caps. 5-28: livro da lei.
Caps. 29-32: conclusão.

Em Dt o povo é convidado a relembrar a lei, vivenciá-la intensamente nas relações sociais e comunitárias. Guardar os mandamentos e estatutos são palavras muito repetidas em todo o Deuteronômio.

O apelo à obediência, bem como seus benefícios, são amplamente discutidos em todo o livro. A impressão que se tem é que há uma grande celebração e que o povo é desafiado a obedecer a lei, após relembrar os grandes feitos de Deus na história do povo (cf. caps. 1-4 e 11.1-6). Muitos autores entendem que há uma grande celebração cultual da aliança, uma festa de ratificação e renovação da aliança.

Percebe-se uma ação pastoral muito forte. O povo é exortado a não se esquecer da ação libertadora de Javé e convidado a vivenciar diariamente o compromisso com Javé da forma mais prática possível, que é a obediência total à lei.

Deuteronômio 6.4-5 é o texto que celebrizou-se no meio do povo. A nação não era somente uma instituição política; era, antes de tudo, um corpo vivo que celebrava diariamente, nas relações sociais e familiares, o amor a Deus.

2. Visão geral do Capítulo 11

I) O texto de meditação está inserido num texto maior que chamamos  de celebração da aliança: inicia no cap. 5 e vai até o cap. 11; é uma introdução ao código deuteronômico, que se estende dos caps. 12 a 26.

Nos caps. 5-11 o escritor faz uma retrospectiva dos acontecimentos do tempo de peregrinação do povo, repete as leis de Êx 20 (as diferenças e semelhanças não são objetos de nosso estudo) e exorta o povo à necessidade de obediência aos estatutos, juízos e mandamentos do Senhor (palavras amplamente repetidas). O cap. 11 é encerrado com as mesmas palavras: Tende, pois, cuidado em cumprir todos os estatutos e os juízos que eu hoje vos prescrevo. (11.32.) A partir do cap. 12 enuncia os mandamentos e no final do cap. 26 retoma o tema da obediência aos estatutos e juízos (26.16).

Para uma melhor compreensão, podemos visualizar o texto da seguinte maneira:

5-11: exortação à obediência aos estatutos, juízos e mandamentos;
12-26.15: os estatutos, juízos e mandamentos;
26.16-30.20: exortação à obediência aos estatutos, juízos e mandamentos.

Quando terminamos a leitura do cap. 11, temos a impressão de que já tínhamos lido o conteúdo em outras passagens de Dt. Este capítulo é quase uma repetição de tudo o que já fora dito, ele serve de preparação para o início do código deuteronômico.

2) Podemos visualizar o cap. 11 da seguinte forma: V. 1: Enunciado geral do amor e obediência a Deus.

Vv. 2-7: Considerai. Os motivos do amor e obediência, descrevendo fatos concretos, sempre contados e recontados no meio do povo. O texto mostra a experiência do Deus libertador, que derrota os poderosos para tirar o povo da escravidão. Demonstra a ação de Javé. O texto usa várias vezes a expressão: O que fez (vv. 3-6), para mostrar a grandeza do Senhor, sua poderosa mão, e o seu braço estendido.

Vv. 8-17: A palavra que se repete é Guardai. Mostra a atitude do povo para com Javé. Deixa claro que uma atitude de obediência é o caminho mais correto, traz prosperidade, alegria e presença contínua de Deus.

Vv. 18-32: Retorna ao assunto já mencionado, porém mostra o caminho da obediência, a saber: a educação na vida pessoal e para os descendentes. Educação pessoal (v. 18), num apelo insistente para vivenciar essas orientações. Educação dos descendentes (vv. 19-20), num apelo para ensinar aproveitando todos os meios e oportunidades. Todos ganham com uma educação sistemática e eficaz, é o que atesta o v. 21. Não educar a si mesmo e ao povo para a obediência a Deus c Ira/cr castigo; por isso, o texto encerra com o tema da bênção e maldição, que é a tónica de lodo o cap. 11.

3) Diagrama próprio e considerações:

— Amar e guardar os mandamentos — considerando os grandes feitos de Deus.
— Guardar os mandamentos para: ser forte; possuir a terra; prolongar os dias; a nova terra é boa.
— Obedecer (guardar), amar e servir. Darei chuva para a terra. Darei alimento para o povo.
— Guardar — para não ser enganado.
Perigo: não vir a chuva; não vir o alimento.
— Pôr as palavras no coração (guardar). Ensinar os mandamentos aos filhos. Multiplicar os dias de todos os descendentes.
— Guardar todos os mandamentos — terá mais terra.
— Bênção: guardar.
— Maldição — não guardar.

O texto deixa clara a necessidade de o povo praticar os mandamentos de Deus lá onde vive. O povo de Israel deveria viver o projeto de Deus de forma clara, e a maneira de fazê-lo era a obediência às leis.

Através da obediência, o povo revela às outras nações a justiça, o amor e a santidade divina. É digno de registro o binômio lei e graça. Em Dt o escritor sempre expõe juntamente a lei e a graça.

A graça é a ação libertadora de Deus, sempre lembrado pelo povo através das celebrações. A lei é o dom que exercita o povo a conhecer a justiça de Deus nas relações sociais.

Para os israelitas, cumprir a lei significa viver em liberdade na terra prometida, prolongar os dias de vida na terra, trazer bênção sobre si e seus descendentes; infringir a lei compromete não só o estado de liberdade, mas também a posse da terra. O apelo registrado nos vv. 18-21 torna-se o ponto central do cap. 11. Daí a estreita ligação entre a lei, maldições e bênçãos.

3. A Pregação

Já que o texto de pregação está limitado pelos versículos indicados, sugerimos que se faça uma rápida introdução situando o nosso texto dentro do contexto do livro e do capítulo; os itens l e 2 são subsídios para esta finalidade.

Sem perder de vista que estamos no Domingo de Pentecostes, podemos desenvolver a meditação dentro do grande tema da educação. O próprio texto nos conduz para isto, tanto os versículos indicados quanto os caps. 5-11, que são uma parênese.

Dentro do tema da educação, podemos desenvolver a pregação nos seguintes passos:

1) As leis de Deus são para nossa vivência pessoal, não devem ser questão utópica ou futurista. Elas são para o aqui e agora. O v. 18 mostra a necessidade da vivência da lei já. Deixar ou adiar a vivência dos mandamentos é atrair sobre si a maldição. Onde imperam a injustiça, a falta de solidariedade, a opressão, o enriquecimento ilícito? É justamente o cumprimento da lei pela metade ou negligência total dela.

Ao se falar em leis ou mandamentos divinos geralmente dá-se conotação negativa, como se fossem algo opressor, legalismo oco e sem vida. Em Dt, leis e mandamentos têm uma conotação altamente positiva; refletem o caráter e a justiça de Deus em todas as relações humanas.

O povo de Deus não crê e ama apenas de forma meditativa e num êxtase espiritual; é, antes de tudo, um povo que deve vivenciar essa fé e amor nos relacionamentos horizontais da vida, ou seja: com a natureza, com o próximo e consigo mesmo. Por isso, faz-se necessário pôr, como diz Dt, a palavra no coração, na alma e diante dos olhos. Observemos que no NT conhecer e guardar os mandamentos é prova de amor e fé.

2) As leis e mandamentos devem ser transmitidos às gerações futuras. Não podemos negar que neste ponto reside uma grande dificuldade hoje. Observemos o descaso para com o Batismo infantil e a confirmação ou profissão de fé (ritos de iniciação na Igreja). Esse descaso tem gerado igrejas fracas no testemunho, pessoas descomprometidas com o evangelho e dificuldade de liderança forte nas igrejas locais. Para completar o quadro caótico, muitos, por não conhecerem a palavra de Deus, são levados por qualquer teologia que aparece, ou seus corações são arrebatados por líderes carismáticos com personalidade forte.

O texto é claro, exige um discipulado constante em relação às diferentes gerações. O livro de Dt dá importância especial à tarefa de ensinar a família (4.9; 6.20-25). Ensinar sobre os grandes feitos de Javé no passado (registrados na Bíblia). Ensinar sobre a justiça de Deus para nós hoje.

A educação dos filhos deve ser contínua. Deve acontecer durante as 24 horas do dia; observemos, neste sentido, os vv. 19-20:
falando, quando estiver assentado em casa;
falando, quando estiver passeando;
falando, quando deitar;
falando, quando levantar;
escrever os mandamentos nas paredes e nas portas.
De acordo com o texto, só há uma coisa a fazer: investir na educação. É necessário começar por nós mesmos (v. 18).

3) As leis e mandamentos são para o nosso benefício. Quando lemos sobre bênção e maldição nos vv. 26-28 temos a impressão de que elas são impingidas diretamente pelo próprio Deus; na verdade, são consequências do tipo de opção que fizermos. Nossa atitude perante os mandamentos é que vai determinar o que teremos. As leis foram colocadas para o bem do ser humano. O menosprezo e o desrespeito para com as leis têm resultado em muitos males e dificuldades. Temos pagado caro pela nossa desobediência. Nas palavras de uma pessoa da Igreja: Quando a gente quer fazer as coisas do jeito da gente, a gente quebra a cara. Epidemias, calamidades provocadas pela natureza, desintegração familiar, etc. estão aí, diante dos nossos olhos, como consequência — maldição —, por causa da negligência da lei.

O menosprezo pela educação em nosso país tem gerado pessoas alienadas, não conhecedoras de seus direitos, falta de consciência política, etc.

Mateus 7.21-29 é justamente o final do Sermão do Monte. Após Jesus reeducar o povo com as leis do AT, reinterpretando-as para sua época e dando exemplos concretos, encerra afirmando que aqueles que estão ligados a Javé obedecem seus mandamentos e contando uma parábola do homem que construiu sua casa. A firmeza da casa é justamente a base, que são os mandamentos, juízos e estatutos guardados (é a expressão forte de Dt 11) pelos filhos de Javé.

4) Neste ponto, pode-se fazer a conclusão da meditação; é o momento de relembrarmos o Domingo de Pentecostes. É justamente a presença do Espírito Santo que escreve as leis em nossos corações, que nos motiva e impulsiona ao cumprimento dos mandamentos de Javé (Jr 31.33).

Confiando na justiça de Deus, que é nosso Senhor Jesus Cristo, caminhemos neste propósito de obediência aos mandamentos. Rm 3.21-29 nos mostra que Jesus Cristo é a justiça de Deus para nós. Somente por meio d'Ele, crendo na sua graça e amor, podemos vivenciar os mandamentos, juízos e estatutos.

Querer obedecer os mandamentos sem crer na graça de Jesus Cristo e na presença do Espírito Santo em nós é mero exercício legalista, é tornar-se apenas um hipócrita moralista.

4. Bibliografia

Bíblia Sagrada — Edição Pastoral. São Paulo, Paulinas, 1990.
LOPEZ, Felix G. O Deuteronômio — uma Lei Pregada. São Paulo, Paulinas, 1992.
THOMPSON, J. A. Deuteronômio; Introdução e Comentário. São Paulo, Vida Nova e Mundo Cristão, 1982.


Autor(a): Antônio L. João
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 2º Domingo após Pentecostes
Testamento: Antigo / Livro: Deuteronômio / Capitulo: 11 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 28
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1995 / Volume: 21
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 14217
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