Ezequiel 37.24-28

Auxílio Homilético

24/12/1982

Prédica: Ezequiel 37.24-28
Autor: Bruno Gottwald
Data Litúrgica: Véspera de Natal
Data da Pregação: 24/12/1982
Proclamar Libertação - Volume: VIII


DEUS É FIEL A SEU POVO, POR ISSO HÁ ESPERANÇA DE PAZ PARA O POVO DE DEUS

I

Ezequiel foi um profeta que viveu, junto com seu povo a miséria e o sofrimento do cativeiro. Havia sido deportado junto com as lideranças de Israel para o cativeiro babilônico em 597, mais precisamente para Tel-Abib, às margens do rio Quebar (1.1,3; 3.15). Ezequiel atuou durante mais ou menos 20 anos entre os exilados como o atalaia de Israel (3.17-21), anunciando, além do juízo, também a salvação que o Senhor tem para oferecer a seu povo aflito.

O povo sente, no cativeiro, a total ausência de Deus e, justamente no momento em que fica sabendo da destruição total do templo em Jerusalém — situação de total desesperança (37.11) —, a presença do profeta representa um sinal concreto da fidelidade do Senhor que vai atrás de seu povo para manifestar-lhe seu amor e solidariedade, anunciando através do profeta uma nova realidade.

Nosso texto, precedido pela visão profética da restauração do povo de Israel (37.1-14) e da unificação do povo de Deus (37.15-23) para que seja um rebanho resgatado por um só pastor, não è um apelo, mas, sim, o anúncio do Evangelho da Salvação. Deus faz o profeta anunciar sua ação salvadora, redentora,com a qual ele, o Senhor, agraciará seu povo. O sujeito é Deus: Eu farei uma aliança de paz , 'estabelecê-los-ei e os multiplicarei, porei meu santuário, eu serei seu Deus. Isto será realidade, não graças ao esforço, ao empenho e às qualidades morais dos homens, mas unicamente graças à misericórdia e ao poder de Deus. Ezequiel, como também Jeremias (29), anuncia de uma maneira especial o propósito escatológico de Deus de criar uma realidade nova para Israel, e que engloba todos os povos, sim todo o universo.

A concretização do anúncio acontece, no seio do povo de Deus, pui a todos os povos. O santuário de Deus, a morada de Deus no mundo hoje, é a manjedoura e a cruz, o testemunho da vontade de Deus encarnado no mundo e o esvaziamento para o mundo; ou, como Bonhoeffer o coloca, o ser Igreja para os outros. Os povos saberão que Deus é o Senhor, na medida em que a manjedoura e a cruz, a pregação encarnada do Evangelho e o ser Igreja para os outros determinam a vida da comunidade do Senhor, para a glória de seu nome.

II

Israel vive a situação angustiante de desesperança (37 11) como conseqüência de sua desobediência e rebeldia para com Deus. Deus, no entanto, em sua misericórdia, volta-se incessantemente para este povo. Todo o Antigo Testamento é a história sofrida de Deus que sempre de novo se volta em sua bondade para o povo.

Nosso momento histórico com seus conflitos, adversidades, situações angustiantes, seja de ordem política, social ou ecológica, são situações sob juízo, consequência do desgarramento, da desobediência. São situações criadas pelo próprio homem que, na obstinação de ser o dono da história, age por conta própria, sem perguntar pela vontade de Deus, e, assim, se afunda cada vez mais numa situação sem perspectiva alguma.

Ezequiel, em seu tempo, anuncia a fidelidade de Deus para com este seu povo. Ezequiel anuncia, portanto, a justiça de Deus que se evidencia na fidelidade total de Deus para com seu povo.

Natal é para nós hoje o testemunho, a expressão máxima da fidelidade de Deus para com o homem. Deus dá-se a si mesmo a nós, e, nesta oferta, abre o caminho para uma nova esperança viva, para uma nova vida, um novo céu e uma nova terra. Com isso Deus nos capacita para, nesta caminhada, colocarmos sinais bem concretos desta novidade que ele cria e sustém.

III

O anseio mais profundo pela paz tem a idade do homem. O homem sempre sonhou com um mundo bom, sadio, justo, um mundo pacificado Este anseio, este sonho tem se manifestado principalmente em épocas de crise, de tensões e sofrimento. Este sonho de um mundo pacificado tem fascinado constantemente a indivíduos e a grupos, sim, tem até contribuído indiretamente para que nos últimos 3.400 anos de história ocidental apenas 285 tenham sido anos de paz; para que nestes últimos 3 400 anos de história tenham sido assinados e desfeitos nada mais nada menos do que 8.000 tratados de paz.

Este sonho encontrou expressão, por exemplo, na obra do grande filósofo Emanuel Kant Da Paz Eterna (Vom ewigem Frieden); ou também no manifesto comunista de conquistar um mundo novo e bom através da força.

Nosso texto dá resposta a este anseio milenar do homem. E uma resposta que se repete constantemente no Antigo Testamento, e, de uma maneira global, no Novo Testamento em Jesus Cristo, e de uma maneira resumida em Ap 21.1-7.

Os homens tendem a reagir de várias maneiras diante desta resposta de Deus. A grande maioria dos cristãos toma conhecimento desta resposta, considera-a válida, mas fica por ai mesmo. Existencialmente esta resposta não contribui nem muda nada. Outros, individualmente ou em grupos, lutam em direção a esta resposta. Sofrem, brigam em nome de Jesus Cristo em favor deste novo mundo. Estes não sonham, não esperam, mas lutam, pois para eles estas palavras proféticas são um apelo.

Vale a pena perguntar como nós reagimos diante desta resposta de Deus. Reagimos nós condicionados por nossas próprias ideias deste novo mundo?

Aqui em Ezequiel não se fala da nova realidade como uma consequência do esforço restaurador do homem, mas do novo que Deus fará. Deus é o sujeito, e, somente quando o homem permitir que Deus seja o sujeito da história, pode haver uma esperança de paz. Deus tem entrado na história do homem, tem dado passos concretos em direção a este seu propósito. Com a manjedoura, a cruz e a ressurreição tem iniciado um processo histórico, do qual a Bíblia, em nome de Deus, garante que chegará a seu objetivo, não graças ao homem e seu empenho, mas unicamente porque o Senhor afirma e o fará. E todo aquele que é incorporado, por graça, neste processo, e todo aquele que é determinado por esta esperança viva, por graça, será, com seu falar, com seu agir, com toda sua vida, um protesto contra este século, este mundo assim como ele se nos apresenta (Rm. 12.1-3). Um protesto não contra o mundo, não contra o homem, mas para e em favor do homem e do mundo, assim como Deus, o Senhor, o idealizou e quer.

Deus assume a aliança da paz dando-se a si mesmo incondicional e totalmente aos homens. A certeza deste ato de Deus, a aceitação deste ato de Deus como pro nobis dá força e perseverança a todos que trabalham e se empenham pela paz como um testemunho vivo da fé, como resposta a fidelidade de Deus.

IV

- BREIT. H. Meditação sobre Ezequiel 37.26-28. In Calwer Predigthilfen. Vol. 1. 2. ed. Stuttgart, 1962.
- RAD. G von. Theologie des Alten Testaments. Vol. 1. 4. ed. Berlin, 1969.
- WESTERMANN, C. Abriss der Bibelkunde. Vol. 1. 3. ed. Stuttgart. 1964.


Autor(a): Bruno Gottwald
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Natal
Perfil do Domingo: Véspera de Natal
Testamento: Antigo / Livro: Ezequiel / Capitulo: 37 / Versículo Inicial: 24 / Versículo Final: 28
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1982 / Volume: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17595
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