Hora de ir na juventude

13/02/2013

Há algum tempo, encontrei um casal de pastores amigos, na rodoviária, em Porto Alegre. Eu estava esperando um ônibus para ir à serra, em direção à Gramado. Eles estavam com sua filha de 20 anos, acompanhando o embarque dela para São Paulo. Conversa vai, conversa vem. No meio do papo, o casal lembrou de músicas de Geraldo Vandré e de outros compositores, cantadas por nós, na faculdade, enquanto éramos jovens. Foi aí que a sua filha exclamou: “Pai, você sempre com estas músicas velhas”. O pai, pastor, com resposta pronta, diz: “São velhas, mas fazem sonhar. Vocês jovens nem sonhos não tem mais!”

Nesta altura, eu fiquei sem poder ajudar na reflexão, pois, fiquei pensando comigo mesmo: será verdade que exista algum jovem que não tenha sonhos? 

Durante muitos anos nas lidas na igreja, principalmente até 2003, na faculdade, no movimento ecumênico e no movimento popular encontro-me, todos os dias, no mundo da juventude. Neste mundo jovem, cantamos: 

Vem que a gente te espera./ A vida é tão bela./ O amor se revela./[...] “Seu verdadeiro apego. Basta não ter medo. Deus é o segredo. Ainda assim, muitos não podem ver”, (grupo reggae Planta e Raiz). 

Veja só: A vida é bela. O amor se revela. Deus é o segredo. Concordo com a banda. Vida, amor e Deus. Tudo perfeito. “Tente outra vez”, canta Raul Seixas. 

Mas a vida anda perigosa, na juventude. Segundo dados do SUS, o homicídio é a primeira causa de morte de adolescentes e jovens, sendo que armas, drogas e carros são as principais causas. Conseguimos vencer muitas doenças. Mas afundamos na violência e na falta de alternativas para a paz. A indiferença da maioria dos jovens em relação aos problemas de seu tempo deixa a vida ameaçada, vulnerável. Muitos jovens nadam, individualmente, em direção contrária, mas na piscina do barco a deriva, na ilusão de que, com isso, estariam se salvando. 

O que fazer? Há um segredo. “Deus é o segredo”. Jesus nos convida a navegarmos para o outro lado da margem. “Vamos para o outro lado do lago”, convidou Jesus ( Lucas 8.22). O convite de Jesus tem propósitos. Não é só convite por convite. É convite para construir barco e navegar. Mas antes de convidar para pegar as ferramentas, construir barco e navegar, é necessário que a juventude sonhe com a boa navegação.

Aceitar convite sempre é um desafio. Tem alguns palpites para a comunidade: 1. Sonhar construir um barco. É preciso se comunicar e se encontrar. Mas o encontro deve ter propósitos. A comunicação e o encontro devem ajudar os jovens a sonharem com a boa navegação, em alto mar. 2. Olhar, orar, ler e estudar o texto bíblico com olhos, mente e coração de jovem. 2. Falar bem dos jovens para seus amigos e suas amigas na escola, na igreja, no trabalho, no lazer. 3. Comprometimento (solidarizar-se) com jovens e entre jovens em seus amores, sabores e cores. 4. Escutar, entender, consolar e perceber as dores e os amargores humanos de jovens. 5. Cuidar da vida: atuar em causas comuns aos jovens. 6. Propor saídas para a realidade. O outro lado do lago é a realidade de fé, vida, esperança, dignidade e paz. 7. Ampliar o cumprimento de deveres e a conquista de direitos humanos da juventude. 8. Valorizar referenciais da cidadania, solidariedade e justiça. 9. Celebrar com entusiasmo a construção do barco e os caminhos das estações e entre estações da vida, da paz, da justiça e da salvação. 

Veja que bonito convite lhe espera. “Por isso eu canto pra você. Encontre liberdade. Chore quando precisar. Eu estarei com você. O meu pensamento estará com você. Minhas orações irão lhe proteger. Chegou a hora da vida viver” (Planta e Raiz). Meu pensamento estará com você. Os pensamentos criam o pensar reflexivo. Significa que a juventude precisa pensar melhor sobre a situação em que vive, em que foi colocada e em que se coloca por conta própria.

A presença é fundamental. Os pensamentos são sinais de reflexão. Uma presença com prática reflexiva precisa ter sempre. Mas não pode faltar a presença acolhedora, amorosa, honesta, consoladora, cuidadosa. E Jesus repetiu muitas vezes, em palavras e ações: “eu amo vocês. E peço que se amem como eu os amo”, João 15. É momento da afetividade. Igual aquele que Jesus ensinou e praticou na partilha da amizade e da Santa Ceia.
Voltando aos jovens e seus sonhos, a igreja tem muitas oportunidades de sonhar com a juventude. Mas nossa comunidade está convidando a juventude para fazer o que? O que a juventude quer fazer? Pense nisto, com amor, presença e visibilidade na cidade.

Teobaldo Witter é pastor, professor e ouvidor público, em Cuiabá, MT
 


Autor(a): Teobaldo Witter
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Jovens
Natureza do Texto: Artigo
ID: 19078
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