Humanos direitos...

31/03/2008

No início do ano recebi um correio eletrônico com o desabafo de uma mãe que viu seu filho morrer pela ação de uma gangue. Identifiquei-me com a dor daquela mãe e me senti solidário com ela. No entanto, a conclusão a que ela chegou, me deixou perturbado. No fim do artigo, critica os defensores dos direitos humanos, afirmando que estes só deveriam valer para “humanos direitos”.

É muito triste que a linha de pensamento daquela mulher sofrida tenha ido nesta direção. O sofrimento, principalmente o sofrimento causado pela injustiça, pela falta de justiça, não deveria levar as pessoas a desejarem a justiça imediata, a justiça feita pelas próprias mãos. Também não deveria levar a dividirem as pessoas em humanas e desumanas.

Melhor seria se ela tivesse conduzido seus pensamentos na direção de entender os fatores que geraram aquela situação; na direção de entender que não só ela está sofrendo com a injustiça, mas os próprios agressores são ferramentas de uma engrenagem falha e corrompida. Todos pertencemos ao conjunto de seres humanos na id da terra. Todas as pessoas têm que passar por um processo de formação do caráter, da personalidade, dos valores e atitudes. O resultado ninguém pode prever. Depende das circunstâncias e de muitos outros fatores. Mas, o que se pode afirmar com toda certeza é que ninguém decide ser mau. As más atitudes são fruto de experiências traumáticas, são fruto de um aprendizado que está muitas vezes fora do controle da pessoa.

O lado positivo desta linha de pensamento é que, se aceitamos que o mal se aprende, também aceitamos que o bem se aprende. Isto é, que todas as pessoas podem aprender a realizar o bem. Também as pessoas que tiveram sua personalidade distorcida por experiências negativas, podem aprender a paz, o amor, a justiça se não forem excluídas e marginalizadas em nossa cabeça e em nossos juízos. Neste contexto lembro uma frase que li e não conheço o autor: “Como as guerras e as violências nascem nas mentes humanas é nas mentes humanas que deverão ser erguidas as estruturas de paz”.

Por fim, perguntei de que lado Jesus Cristo estaria. Do lado dos “humanos direitos”, ou dos humanos falhos, pecadores, carentes de educação, afeto, bons exemplos e de um ambiente familiar sólido? Se por “humanos direitos” entendemos pessoas que marginalizam, excluem, julgam e condenam, então certamente Jesus não estaria do lado delas. Mas, se por “humanos direitos” entendemos as pessoas que se engajam na construção de uma cultura de paz, na resolução não-violenta dos conflitos, no movimento de objeção de consciência, de consumo responsável e de defesa do ambiente natural, então Jesus Cristo estaria do seu lado para proporcionar o encontro de todos os seres humanos, tanto os direitos quanto os distorcidos.

 

P. Carlos Musskopf, Pastor da IECLB na Paróquia do ABCD – Santo André/SP


Autor(a): Sínodo Sudeste
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8355
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