João 6.1-15

Auxílio Homilético

13/08/2006

Prédica: João 6.1-15
Leituras: Êxodo 24.3-11 e Efésios 4.1-7,11-16
Autor: Nilton Giese
Data Litúrgica: 10º.Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 13/08/2006
Proclamar Libertação - Volume: XXXI

 

1. Quem já escreveu antes

Ulrico Sperb faz a primeira abordagem desse texto no Proclamar Libertação vol. 4. Ele acentua que o amor de Deus não é teórico, de discursos. Mas se trata de um amor concreto, de sinais visíveis. Mas apenas consegue ver esses sinais quem segue Jesus, quem é movido pela esperança. A partir daí, ele faz algumas sugestões, como: numa realidade de fome é justo investir mais em pedras (construções) do que em pão (alimentos)? Fome provoca retardamento mental. O desafio de Jesus é motivar o repartir. Como as igrejas podem fazer uma campanha de alimentação a partir desse desafio de Jesus?

Friedrich Genthner escreve sobre esse texto no Proclamar Libertação vol. 10 em busca de consolo para o luto, de confronto com a doença, de solidariedade com os pobres e de sofrimento em meio à fraqueza. Diante dessas questões o autor destaca Jesus como o “pão da vida”. “Onde Jesus está no centro, há colaboração, casas abertas para reuniões, recursos, crescimento espiritual, compartilhar de dádivas, preocupação, conflitos, muita oração e comunhão”, destaca o autor.

Dulce Engster traz sua colaboração sobre esse texto no Proclamar Libertação vol. 19. Ela contribui em forma de meditação, a partir de uma análise exegética em que destaca aspectos particulares de João em relação aos paralelos de Mateus, Marcos e Lucas. Por exemplo: somente João menciona que estava próxima a festa da Páscoa dos judeus; os pães e peixes estão nas mãos de uma criança (menino); somente em João é dito que o pão é de cevada e que Jesus dá ordem aos discípulos para recolherem as sobras para que nada se perca; o povo queria tornar Jesus seu rei, mas Jesus foge para a montanha. A partir dessas particularidades, ela desenvolve sua reflexão trazendo também uma sugestão muito interessante para recontar o texto para jovens e crianças.

Por fim, Marga Stroeher e Valdemar Schulz desenvolvem sua reflexão no Proclamar Libertação vol. 25. Fazem um recorrido exegético muito bom sobre o Evangelho de João e depois sobre o texto, acentuando que em Jesus se decide a fé. A escassez gera abundância. Mas Jesus não quer que a igreja pense em fazer isso por meio do poder. Ele rejeita o uso do poder para resolver a falta de pão. A presença da criança e do repartir revela que Jesus quer que sua igreja seja reconhecida pela partilha. Por fim, fazem uma sugestão de celebração, para o uso do Salmo e de motivações para as leituras bíblicas, terminando com o hino “Repartir”, que pode ser articulado em gestos.


2. O que pode ser acrescentado?

Os textos que acompanham o evangelho nesse domingo são:

2.1 – 2 Reis 4. 42-44
A atividade profética de Eliseu teve lugar no Reino do Norte. Eliseu é um profeta taumaturgo que por meio de seus milagres tentou conduzir o povo a Deus. Na liturgia de hoje, é apresentada a nós a multiplicação dos pães. Embora à primeira vista parece esses não são suficientes para tanta gente, quando ocorre a partilha, todos ficam saciados e ainda há sobras. A força desse milagre é mais espiritual do que material: basta um pouco de pão partilhado com alegria para sentir sua força e sua energia.

2.2 – Efésios 4. 1-6
Esse texto é uma exortação à unidade. A partir da prisão, Paulo suplica aos efésios para que vivam de acordo com a vocação a que foram chamados e se esforcem para manter a unidade, já que receberam um mesmo batismo. O reconhecimento da paternidade de Deus leva-nos a reconhecer que os “demais” são nossos irmãos.

Uma conduta reta de vida corresponde à vocação que receberam aqueles que antes eram pagãos. A vida digna do chamamento à esperança mostra-se no fato de que os membros da igreja guardam a unidade operada pelo Espírito no único corpo.

Fala-se da relação com a igreja e na igreja como comunhão que os abraça. A desintegração da unidade é sinal de desesperança dos membros da igreja. Os requisitos internos para manter a união são: ter estima comum; saber apreciar os dons que Deus deu aos outros, pensar e sentir em comum... Para que esses requisitos se tornem realidade, todos devem afastar-se de toda e qualquer forma de ambição. A humildade e a modéstia desempenham um papel muito importante, em que a unidade é ameaçada. A mansidão, o espírito pacífico e a docilidade são comportamentos que distanciam toda classe de rixas, evitam a agressividade e o sentimento de superioridade. A paciência é um sinal essencial do amor e torna possíveis a salvaguarda, a unidade e a paz.

O chamado que se faz aos que antes eram pagãos é um chamado a voltar-se para os outros, a respeitar o espaço interno e externo, a permitir-lhes que sejam eles próprios e sejam apreciados no amor. O Espírito é o poder que cria e conserva a unidade, e essa unidade deve ser preservada.

3. Especificamente sobre João 6.1-15

Muita gente ia para escutar Jesus. Às vezes, vinham de longe. Seria de se esperar que essas pessoas viessem preparadas para passar alguns dias na presença do Mestre. Vinham atraídas pela fama de seus milagres e dos sinais que realizava. Jesus aproveita um desses momentos para dar uma lição a seus ouvintes. Começa perguntando a Filipe com que comprariam pães para dar de comer à multidão. Filipe diz que não bastariam duzentos denários. André, no entanto, toma a palavra e diz que havia um menino que tinha cinco pães de cevada e dois peixes, mas que isso não representava nada para tanta gente. É a mesma pergunta que o criado fez a Eliseu.

Jesus ensina que a dinâmica do reino é a arte de repartir. Talvez todo o dinheiro do mundo não seja suficiente para comprar alimento necessário para os que estão passando fome... O problema não se soluciona comprando, mas repartindo!

A dinâmica do mundo capitalista é precisamente o dinheiro. Cremos que sem dinheiro nada se pode fazer... e convertemos tudo em papel moeda, recursos naturais e humanos e morais: amor, amizade, serviço, justiça, fraternidade, fé... No mundo regido pelas doutrinas capitalista e neoliberal, não há espaço para a gratuidade... Tudo tem seu preço! A gente já esqueceu que a vida nos é dada por pura gratuidade, por puro dom de Deus! Nessa multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus parte daquilo que o povo tem no momento. O milagre não é tanto a multiplicação propriamente dita, mas o que ocorre no interior dos que o ouviam... Foram capazes, por um momento, de deixar de lado o egoísmo e partilhar. Compreenderam que, se o povo passa fome, não é tanto pela pobreza em si, mas sim pelo egoísmo dos homens e mulheres que, conformados com o que possuem, não se importam com os mais necessitados. Esse gesto de partilha marcou profundamente as primeiras comunidades cristãs. Ao partir o pão, descobre-se a presença nova do Ressuscitado.

Se somos filhos de um mesmo Pai, como nos lembra o apóstolo Paulo na primeira leitura, não se entende por que tantos homens e mulheres vivem na extrema pobreza, enquanto outros vivem na extrema riqueza. No mundo de hoje, investe-se muito dinheiro em guerras, em viagem espaciais, em tratamentos para emagrecer. Os que detêm o capital criam condições cada vez mais injustas e pretendem fazer mais dinheiro, explorando os recursos que restam, mesmo se com isso destroem tudo e acabam com as condições de vida sobre a terra. Nenhum ser humano deveria morrer de fome, pois a terra tem o suficiente para alimentar todos. Os cristãos não devem duvidar da partilha, pois ela é a chave para tornar a fraternidade uma realidade e para reconhecermos que realmente somos filhos do mesmo Pai. Quando se reparte com satisfação e alegria o alimento, esse se multiplica e ainda sobra.

4. Como desenvolver em nós uma economia do AGAPE?

Entre nós, a economia do mercado total ensina-nos todos os dias que os serviços estão disponíveis para quem tem poder aquisitivo. Atualmente, 3 bilhões de pessoas vivem com menos de 2 dólares/dia. Para o mercado total, essas pessoas são consideradas “despesa”. A economia de mercado total ensina-nos que a pessoa é o que ela pode comprar. A pessoa é reconhecida como pessoa se ela tem dinheiro.

Jesus rompe essa lógica do mercado total com a lógica da graça. Somos independentes do que temos. A pessoa não é pessoa porque ela tem dinheiro. A humanidade não está nas coisas que eu tenho (ou no carro que eu posso comprar), mas no fato de eu ser um ser filho/filha de Deus. E é como filho/filha de Deus que tenho meu lugar e minha tarefa nesse mundo. Nessa nova lógica da graça, devemos ouvir o desejo de Jesus de vida abundante para todos (Jo 10.10). Nessa lógica da graça, o dinheiro e os bens devem ser tratados como instrumentos para que todos tenham vida abundante. O mercado é necessário, mas a mensagem do evangelho nos ensina que o mercado deve ter limites. Ele não pode ser total. Algumas coisas não podem ser distribuídas pelas leis do mercado. Por exemplo: alimentos, água, dignidade, justiça, graça. Essa distribuição não cabe ao mercado, porque o mercado faz contratos comerciais e não contratos sociais.

5. Para a revisão de vida

Deus está acima de nossas divisões; somos todos guiados, movidos e animados por um mesmo e único Espírito. Sou capaz de ver as diferenças que podem existir entre nós como também as riquezas que o Espírito nos dá para construir juntos a unidade, ou prefiro a uniformidade que mata a pluralidade dos dons?
No deserto, Moisés foi incapaz de alimentar a multidão; precisou recorrer a Javé. Jesus, só Ele é o único capaz de alimentar a multidão, todos os que têm fome, de modo que “todo aquele que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna”. Com que “pão” alimento a minha vida: o do dinheiro, ou da fama, ou da comodidade... ou com o pão do serviço?

6. Para a reunião de grupo

Eliseu, servo do Senhor, aproveita o pão que lhe é oferecido para um sacrifício ao Senhor e usa-o para dar de comer, em tempo de carestia, ao povo que busca o Senhor, mas não tem o que comer. Acontece que o profeta de Deus deve levar a palavra ao povo, mas o básico é que as pessoas tenham com que se alimentar para estar vivas. O que é mais importante: oferecer aos demais o pão da palavra ou a palavra do pão? Aprofundar essa dialética entre a fome material e a fome espiritual... Podem-se estabelecer divisões e contraposições? O que pensar, nesse sentido, do “materialismo” de Mt
25.31ss?

7. Subsídos litúrgicos

Para a oração da comunidade:– Por toda a igreja, para que sejamos capazes de alimentar todos quantos têm fome e sede de Justiça, pedimos ao Senhor.

– Por todos os governantes do mundo, para que em suas gestões seja questão primordial a atenção aos indigentes, pedimos ao Senhor.

– Por todos nós, cristãos, para que nunca duvidemos de nossa vocação de animadores e propagadores da vida, do amor, da justiça e da esperança, pedimos ao Senhor.

– Por nossa comunidade, para que se mantenha fiel ao exemplo de Jesus na hora de comprometer-se na luta por resolver as necessidades das pessoas, pedimos ao Senhor.

Oração comunitária: Deus, nosso Pai, protetor de todas as pessoas que confiam em ti, dá-nos o pão de cada dia, que alimenta nosso corpo para seguirmos fortes na construção de sinais de teu reino; dá-nos o pão de tua palavra, que nos dá luz e sentido para nossas vidas. Isso te pedimos por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém!
 

 


 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 10º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 6 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 15
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2005 / Volume: 31
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 23650
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