Juízes 4.1-7

Auxílio Homilético

16/11/2008

Prédica: Juízes 4.1-7
Leituras: Mateus 25.14-10; 1 Tessalonicenses 5.1-11
Autor: Elaine Gleci Neuenfeldt
Data Litúrgica: 27º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 16/11/2008
Proclamar Libertação - Volume: XXXII


1 Introdução
As leituras previstas para este domingo têm como tema comum a vigilância e o preparo para o dia do juízo. Mateus 25.14-30 conta a parábola dos talentos ou como cada qual atua com os talentos que recebe como graça; 1 Tessalonicenses 5.1-11 recorda a necessidade da vigilância diante da iminência da vinda do Senhor.
A ponte com o texto do Antigo Testamento previsto para a pregação vejo na idéia de que estar atento e preparar-se para a tarefa de vigilância pode significar situações bem concretas da vida cotidiana. Esse preparo e vigilância podem ser exercidos por homens e mulheres e tem melhor possibilidade de dar certo se são assumidos em conjunto ou em grupo. Sugiro usar a perícope da pregação até o v. 9, onde acontece a ida conjunta de Baraque e Débora para a batalha, pois uma ênfase a ser dada nesse estudo é o convite que o homem faz à mulher de assumir em conjunto a tarefa.

2 Comentários exegéticos
O livro de Juízes faz parte de um conjunto de livros que se chama Obra Historiográfica Deuteronomística (Josué até 2 Reis, excluindo Rute). Seu texto surge em diferentes etapas e representa a visão de reconstrução da história de um grupo depois da catástrofe da destruição e do exílio (587, 597 a.C.). O conteúdo do livro retrata a época entre a conquista da terra prometida e a implantação do reinado.
O capítulo 4 localiza-se na parte central do livro, que trata das narrati¬vas dos juízes – 3.7-16.31. A estrutura narrativa dessas perícopes é bastante similar: as pessoas fizeram o que era mau, ocorrendo a revolta contra Deus. Segue uma situação de aflição e lamento para, em seguida, Javé levantar um juiz, um salvador – sofet –, que irá tirar o povo da situação de sofrimento. Juntamente com Otniel, Jefté e Shamgar, Débora é nomeada junto aos juízes maiores – aqueles que têm mais do que uma referência e uma trama narrativa mais extensa. O sofet tem a tarefa de ajudar Israel a conquistar o direito e a justiça. Aqui a idéia é que, sem o reinado, a mediação entre a divindade e o povo vai ser feita por essa figura instituída, que deve cuidar da jurisprudência, assumindo inclusive as tarefas de comando militar.
Algumas informações sobre a época e o contexto histórico, narrado nos Juízes, podem ajudar a entender o texto em estudo. A autoridade político-jurídica estava a cargo dos anciãos, que representavam o poder das famílias e de sua associação, o clã. As decisões eram tomadas em assembléias coletivas, que reuniam o povo sob a convocação de uma determinada liderança. Não havia exército fixo e permanente; esse era convocado somente em situações de conflito emergente. O uso da terra era coletivo e havia uma distribuição igualitária da produção. Quanto à organização religiosa, não há referência a templo e nem de um corpo sacerdotal especializado. Parece que as celebra¬ções e reuniões importantes aconteciam assim como o versículo 4 do mesmo capítulo 4 nos indica o lugar onde Débora exercia sua função de liderança profética: debaixo da palmeira, ou seja, debaixo das árvores, sem a infra-estrutura de um palácio ou de um templo.
Débora – mulher, juíza e profetisa
A profecia feita por mulheres é atestada em alguns textos do Antigo Testamento: junto com Débora, em Juízes 4 e 5, também Miriam é mencio¬nada em Êxodo 15, Hulda em 2 Reis 22.14 e Noadia em Neemias 6.14. Ainda, Isaías 8.3 fala de uma profetisa, mulher do profeta. Em 1 Crônicas 25.5 são nomeadas as três filhas de Hemã com funções de profetizar com harpas, alaúdes e címbalos. Essa referência tão escondida entre os textos e as listas das crônicas mostra-nos que há evidências de mulheres ocupando funções no templo, quem sabe ligadas às tarefas sacerdotais.
O que se pode atestar é que a liderança de mulheres relacionada a funções religiosas acontece em diferentes contextos do Antigo Testamento. Mulheres atuam em funções religiosas, políticas, ocupam lugares sociais diversos e aqui, em Juízes 4, é mencionada a atuação de uma mulher em assuntos militares. Débora é uma mulher líder em Israel e dela vai depender que o povo se levante em defesa contra o ataque do exército inimigo.
O nome Débora pode ser traduzido por “abelha”; a expressão “Débora, a mulher de Lapidote”, normalmente é traduzida como a esposa de um homem chamado Lapidote. No entanto, a palavra que normalmente serve para desig¬nar o nome do marido não precisa ser um nome próprio, e eset (no hebraico) pode referir-se à esposa, mas também à palavra mulher (como acontece no português). Assim, a expressão pode ser traduzida como “Débora, uma mulher de espírito, mulher de chamas”.

3 Meditação
O tema para orientar a meditação será o bom planejamento e a dispo¬sição de se envolver nas tarefas e compromissos comunitários que requerem a participação e a liderança de mulheres e homens dispostos a servir. Uma coisa é estar envolvido com o desenvolvimento da vida da comunidade, outra é estar comprometido. Aliás, a sabedoria popular já dá uma boa definição sobre as duas posições. O exemplo é a participação da galinha e do porco em um prato de lingüiça com ovos. A galinha está envolvida, mas o porco está comprometido. Comprometer-se implica mesclar-se, entretecer-se nas redes que sustentam as relações sociais.
Para que a comunidade floresça e seja lugar de colheita de mel, de cura e acolhida, é fundamental o comprometimento das pessoas que a formam. Não basta somente a atuação da obreira ou do obreiro, ou do presbitério. É preciso que as pessoas assumam tarefas, esbanjem dons e talentos para o crescimento coletivo.
Um grupo incansável e constante, que está em profundo compromisso comunitário, é o das mulheres. Os diferentes grupos de mulheres das comu¬nidades têm sido, muitas vezes, o espaço de sustentação e apoio dos diversos trabalhos das comunidades. Mais do que trabalhar somente para si, para que seu grupo apareça, o desafio que se coloca é que a vida da comunidade seja mexida, enriquecida e movimentada.
As mulheres e suas funções nas comunidades
O texto bíblico da prédica traz o exemplo de uma mulher que está com¬prometida com a realidade de seu povo. Débora tem funções de liderança; ela atua como juíza, responsável por receber as contendas do campo jurídico, mas também está comprometida com assuntos políticos e militares que envolvem a vida de sua gente. Nota-se que não há o que normalmente presenciamos em nossas comunidades: divisão de mundos e trabalhos de homens e de mulheres. A atuação das mulheres não se restringe ao mundo da cozinha, das panelas, das cucas e bolachas. Não que essas tarefas não sejam impor¬tantes. Mas a capacidade de trabalho das mulheres está muito além disso. Mulheres têm capacidades em diversos campos, como na aplicação das leis, nas construções e organização da infra-estrutura, no destino do orçamento, no planejamento dos trabalhos diaconais e sociais. Mulheres testemunham a palavra de Deus em compromisso com a justiça e a solidariedade.
O exemplo de Débora, que julga e atua sob uma palmeira, mostra tam¬bém que não é necessária uma grande infra-estrutura para que o trabalho aconteça. O desafio está justamente em aprender a se mover em meio às possibilidades que existem.
Um outro aprendizado de trabalho comunitário que advém desse texto é a ação concatenada entre o homem e a mulher. Débora chama Baraque, e este não sai sozinho para a batalha. Ele precisa da ajuda dela. E ele admite que precisa ajuda. Que gesto mais motivador: um homem admite que precisa da ajuda de uma mulher e não se sente e nem vai ser rebaixado por isso. Há tarefas que, para ser bem executadas, precisam da cooperação, das mãos de outros, do olhar e da avaliação de outrem. A cooperação entre homens e mulheres só vai trazer benefícios para o crescimento da comunidade.
Para que o trabalho alcance o que se almeja, é fundamental um exer¬cício primeiro: o planejamento. Planejar implica dividir tarefas. Para um bom planejamento é preciso mapear as capacidades e dons. A líder conhece os dons e as capacidades e convoca aquele que tem a capacidade de conduzir a tarefa. Planejamento implica também o reconhecimento das limitações e, a partir desse reconhecimento, pedir ajuda. Mais do que o orgulho próprio, o reconhecimento pessoal, é preciso saber colocar em primeiro lugar o bem comum. É isso que a atitude de Baraque nos ensina. Ensina também a hu-mildade de saber pedir ajuda e dividir os louros de uma vitória. Na graça de Deus, homens e mulheres são convidados a intensificar as relações que testemunham o amor e a paz.

4 Imagens para a prédica
Por causa do significado do nome de Débora – abelha –, sugiro uma imagem: a colméia. A colméia é uma forma de organização que só é possível por causa da entrega e do compromisso com o trabalho coletivo, comunitário. O mel, produto dessa forma coletiva de trabalho, é metáfora para a palavra de Deus nos salmos de louvor: a palavra de Deus é mais doce do que o mel; o mel, juntamente com o leite, são as promessas de fartura para o povo que entra na terra prometida; é alimento que nutre e sustenta; é metáfora de bem viver e bem querer. O mel, produzido pelo trabalho coletivo e organizado das abelhas, é metáfora do gosto da palavra de Deus em nossas vidas. Que seja doce alimento, que anima, sustenta e vivifica. A colméia lembra igualmente organização, distribuição de tarefas, trabalho organizado.

5 Subsídios litúrgicos
“Oração é a saudade transformada em poema.” (Rubem Alves)

Oração de coleta:
Deus bondoso! Infunde em nós a vontade de nos comprometer com a tua palavra, com o testemunho de dignidade e justiça em meio à nossa realidade. Ajuda-nos a viver entre nós o compromisso de comunhão e soli¬dariedade. Abre nossos ouvidos para que tua palavra encontre morada em nossos corpos. Amém.

Bênção:
Que uma boa saúde e a felicidade te acompanhem.
Que sintas prazer no que tens que fazer,
orgulho por tudo o que tens feito,
confiança em tudo o que farás.
Que tenhas paciência quando virão tempos difíceis
e fé de que os anos que virão serão melhores.
A bênção de ter amigos com quem compartilhar.
Otimismo e alegria animando-te o coração.
E segurança que Deus vai contigo no caminho.
(Red Latinoamericana de Liturgia y Educación Cristiana CLAI/CELA¬DEC)

Bibliografia
BRENNER, Athalya. Juízes. A partir de uma leitura de gênero. São Paulo: Paulinas, 2001.
DREHER, Carlos. O livro de Juízes. Um subsídio para a sua leitura. Belo Ho¬rizonte: CEBI.
 


Autor(a): Elaine Gleci Neuenfeldt
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 26º Domingo após Pentecostes
Testamento: Antigo / Livro: Juízes / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 7
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2007 / Volume: 32
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 24335
REDE DE RECURSOS
+
Todas as nossas orações devem fundamentar-se e apoiar-se na obediência a Deus.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br