Lutero - Reforma: 500 anos

Culto na IECLB: a nossa liturgia, o nosso jeito de celebrar!

01/04/2014

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   Culto é a reunião comunitária na presença de Deus para render-lhe glória, confessar os pecados, ser agraciado com o perdão, agradecer, interceder, ouvir a Palavra, receber as dádivas dos Sacramentos e a bênção divina. Como tudo isto acontece? O culto acontece mediante uma liturgia. Todo culto segue uma liturgia! Sem liturgia, a Comunidade nem mesmo chega a se reunir. Liturgia é o 'conjunto de atos, palavras e formas, carregados de significado, expressos de certo jeito, em certa sequência' (Livro de Culto). Trata-se do passo a passo do culto. Esse passo a passo não é aleatório. No culto, cada passo é dado de acordo com um sentido, tendo em vista um objetivo. Liturgia é ritmo e visa à evolução do culto e ao seu todo!

   Lutero, ao discorrer sobre o culto, fala sobre a importância de uma ordem do culto. Conforme o Reformador, a ordem do culto é entendida como algo exterior, que não tem importância quanto à nossa consciência perante Deus, entretanto ela é útil, porque ajuda as pessoas a compreenderem o que acontece no culto, é instrumento de participação no culto, evita que cada qual faça a sua própria ordem litúrgica, é parte da identidade cristã. No dizer do Reformador, 'devemos, por amor, como ensina S. Paulo, procurar a unanimidade e, da melhor forma possível, ter as mesmas formas e procedimentos, assim como todos os cristãos têm o mesmo Batismo, o mesmo Sacramento, não tendo ninguém recebido de Deus algo especial' (Obras Selecionadas, 7, 177).

   Para ajudar as Comunidades a manterem a sua identidade cristã e confessional no culto, a IECLB possui um Livro de Culto, aprovado em Concílio. No ano de 2013, este Livro completou 10 anos. Nesse livro lemos sobre a compreensão de liturgia e culto, os fundamentos bíblicos, históricos, teológicos e antropológicos do culto, assim como encontramos uma descrição da nossa liturgia, das suas partes e dos seus elementos.

   Como é a liturgia do culto na IECLB? De que jeito celebramos? Quais as partes e os elementos que caracterizam a nossa liturgia?

O culto é formado por quatro partes, que são: Liturgia de Abertura, Liturgia da Palavra, Liturgia da Ceia e Liturgia de Despedida.

   A Liturgia da Palavra e a Liturgia da Ceia estão no centro do culto. Elas pertencem ao núcleo do culto cristão desde o seu surgimento. É a herança do culto que recebemos das primeiras comunidades cristãs. Mais tarde, foram desenvolvidas e ampliadas as demais partes, a Liturgia de Abertura e a Liturgia de Despedida.

Vejamos todas as partes da liturgia e os seus respectivos elementos: 

Liturgia de Abertura

   A sua função é preparar o clima do culto, do encontro de Deus, que vem a nós na Palavra e nos Sacramentos. Os elementos litúrgicos que compõem a Liturgia de Abertura são os seguintes:

Oração silenciosa individual: é o preparo individual para o culto, quando entramos no templo.

Prelúdio ou cântico de entrada: o prelúdio é uma peça musical executada por Músicos ou cantada pelo Coral. Ajuda a Comunidade a concentrar-se. Pode ser substituído por um cântico de entrada, entoado pela Comunidade.

Acolhida: é um elemento informal do culto. Objetiva criar um ambiente familiar no culto. São dadas as boas vindas e as pessoas visitantes são acolhidas. É importante cuidar para que este momento não seja extenso.

Saudação: esta é formal, pois declara em nome de quem o culto é realizado, lembrando Mateus 18.20. Deixa claro que o culto ocorre por incumbência, em nome e para a honra e glória de Deus.

Confissão de pecados e absolvição ou anúncio da graça: tem característica de uma oração preparatória, ou seja, ao nos reunirmos diante de Deus, antes mesmo de ouvirmos a sua Palavra, lembramos quem somos, reconhecemos os limites humanos, com os nossos pecados e somos lembrados de que vivemos a partir da graça de Deus. A Confissão de Pecados é seguida de uma Absolvição ou Anúncio da graça.

Kyrie: as palavras Kyrie eleison significam Senhor, tem compaixão (Mt 15.22, 17.15 e 20.30). No culto, o Kyrie é o momento em que a Comunidade carrega diante de Deus as dores do mundo e pede pelo testemunho da Igreja frente à realidade que causa tais situações.

Gloria in excelsis: é o canto da Comunidade em louvor e adoração ao Deus que vem ao encontro do seu povo. Baseia-se no canto dos anjos, conforme Lc 2.14, que anunciou a vinda de Deus ao mundo em Jesus! O Gloria in excelsis expressa que o Deus a quem damos glória é o Deus de Jesus Cristo, o encarnado, o crucificado e o exaltado.

Oração do dia: trata-se de uma oração breve, que faz referência ao tema do culto, tendo a função de encerrar a Liturgia de Abertura, preparando para a Liturgia da Palavra

Liturgia da Palavra

Com a Liturgia da Palavra, a Comunidade chega ao coração do culto. Compõem a Liturgia da Palavra:

Leituras bíblicas: a Igreja adotou um Lecionário, livro que indica as leituras bíblicas para cada Domingo e festas do Ano Eclesiástico. Para cada culto, estão previstas três leituras. Uma leitura corresponde ao Antigo Testamento e duas correspondem ao Novo Testamento, sendo uma delas a de um Evangelho.

Cantos intermediários: são os cantos que intercalam as Leituras Bíblicas. Eles são breves e ajudam a Comunidade a responder em louvor ao texto lido ou a meditar sobre a sua mensagem.

Pregação: a Palavra de Deus é interpretada e atualizada para a vida da Comunidade e tem por base um dos textos lidos (conforme o previsto pelo Lecionário) ou o conjunto deles.

Confissão de fé: após a Pregação, a Comunidade responde à mensagem recebida por meio do Credo Apostólico. É a sua forma de dizer: nesse Deus eu creio.

Ofertas: é uma expressão de gratidão a Deus e um sinal de compromisso comunitário com a comunhão do corpo ao qual pertencemos. A oferta tem cunho diaconal. 

Oração geral da Igreja: orar é um serviço da Comunidade do qual ela não pode prescindir. A oração geral da Igreja segue uma estrutura clássica. Intercede-se pelas autoridades civis e eclesiásticas, pelos Ministros e Ministras da Igreja, pela Comunidade, pelos serviços que ela mantém, por suas lideranças e pelas pessoas que sofrem. 

Quanto mais uma Comunidade conhece o passo a passo do culto, mais ela se envolve, mais ela participa e se torna mais comprometida com o culto, evento principal da vida da comunidade cristã.

 

Liturgia da Ceia

   A Ceia do Senhor é o que de mais genuíno há no culto cristão. O culto cristão nasceu porque Jesus deixou esta incumbência: façam isto em minha memória, referindo-se ao partir do pão e à distribuição do cálice (conforme 1Co 11.23-25), por isso a Comunidade celebra a Ceia com frequência e recebe este Sacramento como um presente precioso, uma dádiva divina das mais ricas. A Liturgia da Ceia consiste dos seguintes elementos básicos:

Preparo da mesa: o pão, o cálice, os jarros já estão sobre a mesa ou são levados à mesa, neste momento, por um grupo da Comunidade.

Oração preparatória: é a oração de graças pelo que Deus vai realizar na Ceia com os frutos do nosso cotidiano, o pão e o fruto da videira, em nosso favor.

Diálogo: é o diálogo inicial que antecede a oração de mesa da Ceia do Senhor entre Oficiante e Comunidade, com frases de pergunta e resposta.

Oração eucarística: por um lado, é a oração de mesa da Ceia do Senhor. Com ela, a Comunidade, por meio da pessoa oficiante, dá graças pelo que Deus fez e faz por nós em Jesus Cristo. Entretanto, sobretudo, é a afirmação daquilo que Deus nos concede na Ceia. A Oração eucarística é concluída com o Pai Nosso, a grande oração da família do Senhor.

Gesto da paz: Ceia é reconciliação, de Deus conosco, entre nós e Deus e entre nós, membros do Corpo de Cristo, por isso, na Ceia, somos convidados a estender o Gesto da Paz, respondendo ao abraço que Deus nos dá, buscando viver como pessoas reconciliadas.

Fração: refere-se ao gesto de partir o pão e de elevar o cálice.

Comunhão: é o momento auge da Ceia. Tudo está preparado para que se viva a comunhão com Cristo e entre as pessoas. Ter comunhão com Deus é receber o que somente Ele concede e é viver comunhão com o próximo. Partilhar a vida no altar é impulso para vivermos a partilha no dia a dia.

Oração pós-comunhão: é a oração que conclui a Liturgia da Ceia. 

Liturgia da Despedida

Avisos: antes de a Comunidade partir, dão-se os Avisos referentes à vida comunitária, lembrando que as atividades do dia a dia também são colocadas sob a bênção de Deus.

Bênção: como despedida, o Ministro ou a Ministra invoca a presença de Deus na vida de cada pessoa presente no culto, pois o Deus que nos reúne no culto é o mesmo que nos acompanha na vida diária.

Envio: abençoada, a Comunidade é enviada a servir a Deus na vida cotidiana.

Poslúdio ou hino final: assim como na abertura, uma peça musical executada por Músicos ou um hino entoado pelo Coral ou pela Comunidade ajudam a deixar o culto ecoar. 

   As partes e os elementos aqui descritos caracterizam a liturgia do culto na IECLB. É importante observar que a liturgia do culto nem sempre contém todos os elementos. É possível organizar uma liturgia combinando os seus elementos. A isso chamamos de moldagem litúrgica. Decisivo é cuidar para que os elementos litúrgicos considerados imprescindíveis estejam na liturgia, que haja coerência entre os elementos combinados e que se respeite o lugar e a função de cada um deles dentro da liturgia.

   Seguir uma boa liturgia é importante, mas não é tudo. O que acontece no culto é, em última análise, fruto da ação graciosa de Deus. Ter consciência disso não nos isenta de preparar bem o culto, de zelar pelo que vai acontecer e de conhecer bem a liturgia do nosso culto. Quanto mais uma Comunidade conhece o passo a passo do culto, mais ela se envolve, mais ela participa e se torna mais comprometida com o culto, evento principal da vida da comunidade cristã. 

Culto é a reunião comunitária na presença de Deus para render-lhe glória, confessar os pecados, ser agraciado com o perdão, agradecer, interceder, ouvir a Palavra, receber as dádivas dos Sacramentos e a bênção divina.

 

 

Cat. Dra. Erli Mansk, graduada em Teologia, com ênfase no Pastorado e em Educação Cristã, com Mestrado Profissionalizante em Liturgia e Doutorado em Teologia Prática (A ritualização das passagens da vida: desafios para a prática litúrgica da Igreja), todos pela Faculdades EST, em São Leopoldo/RS, é Coordenadora de Liturgia da IECLB 

O seu poder é eterno e o seu Reino não terá fim.
Daniel 7.14
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