Marcos 10.17-31

Vida eterna somente pela graça de Deus.

11/10/2015

Marcos 10. 17-31
Vida eterna somente pela graça de Deus.

O Evangelho de hoje nos fala de uma evangelização frustrada. A história é de um jovem, muito rico, muito estudioso, aplicado, um orgulho para seus professores judeus. Ele só tirava nota máxima, mas mesmo assim sentia que algo lhe faltava. Por isso, ela vai procurar a Jesus e lhe pergunta: Bom mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?

Jesus lembra ao jovem que a lei judaica manda cumprir os mandamentos. Não somente os 10 mandamentos, mas também as mais de 600 prescrições que derivam dos 10 mandamentos. O jovem, responde: Sim, Senhor, eu tenho observado isso desde a minha infância. Era algo espetacular. Aquele jovem tinha as duas coisas fundamentais que muita gente deseja ter na sua própria vida: ter muitos bens e ter a consciência tranquila. Ele era amável com as pessoas, chama a Jesus de Bom Mestre, e certamente tinha uma boa reputação moral. Portanto, a vida eterna deveria ser mais uma conquista, mais um objetivo a ser alcançado na sua vida louvável.

Então, disse Jesus, falta somente uma coisa. Vender tudo o que tinha e dar o dinheiro aos pobres e então seguir a Jesus. Ai os neurônios do jovem entraram em parafuso. Para ele a vida eterna deveria ser uma conquista. E Jesus pede que ele renuncie as suas conquistas. O jovem não conseguia entender. Renunciar as conquistas era apresentar-se vazio diante de Deus. Isso o jovem não conseguia fazer. Ele não conseguia abrir mãos do que tinha, mas principalmente ele não conseguia renunciar a sua concepção que a gente pode conquistar o céu aqui na terra. Isso era ensinado pelos fariseus. E ele continuou acreditando que a vida eterna deveria ser conquistada aqui na terra.

Deve ter sido uma cena de tristeza, quando aquele jovem tão aplicado, vira as costas para Jesus e vai embora. E Jesus não vai atrás dele. Por que, Jesus não foi atrás ele? O Evangelho do João diz em Joao 14.6: Jesus diz, Eu sou o caminho a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim. Para os cristãos, seguir a Jesus é o único caminho para a vida eterna.

Mas olhemos um pouco mais de perto essas duas condições de Jesus: renunciar a toda segurança e seguir a Jesus. Essas condições ainda são muito difíceis também hoje. Muitas pessoas se aproximam de Jesus para pedir suas bênçãos, mas não estão disposta a fazer nenhum sacrifício. Se tiverem que fazer um sacrifício, então elas também viram as costas e vão embora. Muitas pessoas gostaria de viver em paz, mas se para isso elas tiverem que renunciar ao próprio sentimento de superioridade – e em troca saber ser humilde e pedir perdão para outra pessoa (para os pais, para os irm@s ou para os filh@s), - para muitas pessoas – renunciar ao seu orgulho (à superioridade), então isso se torna algo impossível de fazer.

Estamos no mês da Reforma e lembro que Martin Lutero se perguntava muitas vezes: porque as pessoas continuam comprando as indulgências, mesmo depois de várias pregações contrárias em que Lutero havia citado várias passagens bíblicas que comprovam que as indulgências não servem para livrar ninguém do inferno ou do purgatório. Lutero chegou a conclusão que as pessoas compravam as indulgências, porque elas queriam ser merecedoras de sua própria salvação. A indulgência era uma garantia de que elas haviam feito algo, e que agora elas tinham o direito de exigir que Deus lhes abrisse as portas do céu. Com a indulgência na mão, elas podiam exigir isso de Deus.

Lutero ensinava que isso era mais um exemplo de que o ser humano não quer deixar Deus ser Deus. Ele próprio quer ser o seu deus. O ser humano não quer fazer a vontade de Deus, não quer renunciar a nada, ela quer conquistar, exigir que Deus faça a sua vontade. Isso Lutero chamava de pecado original.

Hoje ouvimos que alguns pastores ensinam que no momento da oração a gente deve dizer palavras fortes como: eu determino, eu ordeno, eu declaro, eu ..... A gente deve constranger a Deus para que a nossa vontade seja feita. Oração forte é aquela que obriga a Deus estar a meu serviço, a atender os meus comandos.

Lutero diria que isso é ensinamento do mau adversário de Deus. Mas, mesmo assim – como no tempo das indulgências - as pessoas preferem acreditar nesse tipo de ensinamento. Por que?

Lutero somente encontra uma resposta para o caso das indulgências e também para esse ensinamento anti-evangélico referente as palavras fortes na oração. Lutero diz: O ser humano é mau por natureza. A doutrina do livre arbítrio diz que ao nascer nós trazemos dentro de nós duas sementes: uma do bem e outra semente do mal e que nós podemos escolher qual delas queremos desenvolver em nossa vida. Para Lutero, isso não era bem assim. Se Deus colocou uma semente do bem e uma semente do mal, o Diabo aproveitou uma cochilada de Deus e colocou milhões de sementes do mal dentro de nós. Por isso, o ser humano não é livre, mas ele é servo do mal. A essência do mal está dentro dele, está dentro de nós.

No entanto, mesmo assim, não tendo nada de bom dentro do ser humano, Deus vem ao seu encontro. Deus não consegue abandonar o ser humano, porque ele o ama. O maltratado (Deus) não consegue abandonar o sádico (ser humano). As primeiras comunidades cristãs tinham uma resposta, que registram no Evangelho de João:
João 3.16
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito para que toda pessoa que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.

Aí Lutero descobriu que – mesmo que o ser humano merecesse o castigo eterno por sua maldade – Deus não dá ao ser humano o que ele merece (que é a condenação eterna), mas Deus dá ao ser humano o que ele não merece, o seu amor. Essa é a justiça de Deus. Por isso, a vida eterna e as bênçãos que recebemos de Deus nesta vida – são possíveis exclusivamente por causa da graça de Deus. Nós não merecemos nada disso.

O ser humano não consegue chegar diante de Deus com um caminhão de boas obras para exigir de Deus a vida eterna. A única coisa que o ser humano pode fazer diante de Deus é reconhecer que somos pessoas indignas, que somos pessoas más, que nada temos de bom. Por isso, sem a graça de Deus, receberíamos apenas o que de fato merecemos: o castigo eterno.

Mas, quando renunciamos ao nosso falto orgulho, quando confessamos nossa arrogância e reconhecemos que nada temos para exigir de Deus, então encontramos a grande bondade de Deus, e nossos olhos se abrem para ver diante de nós os braços abertos de Cristo.

O jovem que se encontrou com Jesus não conseguia aceitar isso. Ele não precisava dos braços abertos de Jesus. Ele queria uma salvação por seus próprios méritos, ele queria ser o autor de sua própria salvação. Jesus não vai atrás dele. Mesmo sabendo que o caminho que o jovem escolheu é errado. Jesus respeita sua decisão e deixa que ele vá embora. No entanto, ele alerta aos seus discípulos: É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha que uma pessoa entrar no céu por seus próprios méritos.

No entanto, o que é impossível para as pessoas, é possível para Deus. A salvação não é mérito das pessoas, mas é possível unicamente pela graça (bondade) de Deus.

Então as boas obras não são necessárias? Cada um então pode fazer o que quiser?

As boas obras devem ser consequência de uma pessoa que reconhece o grande amor de Deus por ela. Assim como o fruto de consequência de uma árvore bem cuidada. As boas obras devem ser os frutos do bom cuidado e do amor que Deus nos tem dado.

Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 17 / Versículo Final: 31
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 35362
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