Marcos 4.35-41

Auxílio Homilético

21/06/2015

Prédica: Marcos 4.35-41
Leituras:Jó 38.1-11 e 2 Corintios 6.1-13
Autora: Fabiani Appelt
Data Litúrgica: 4º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 21/06/2015
Proclamar Libertação - Volume: XXXIX 

1. Introdução

O texto bíblico indicado para a prédica deste domingo já foi objeto de estudos nos PL XVI, XXII, XXVIII e XXXIII. Recomendo sua leitura, pois trazem boas reflexões.

Dos textos litúrgicos, o de Jó fala sobre o Deus Criador, que governa a sua criação com justiça. Fala ainda sobre fragilidade do ser humano diante do poder de Deus e da maneira especial com que Deus cuida da sua criação. Já o texto de 2 Coríntios fala do Deus que ouve o clamor de seu povo, vem a seu encontro e o socorre. A partir dessa ação de Deus, os discípulos são convidados a exercer o ministério com desprendimento e ousadia.

O texto de Marcos 4.35-41, por sua vez, traz a conhecida história em que Jesus acalma uma tempestade. Esse texto faz uma ponte entre o bloco de parábolas (4.1-34) e outros milagres contados nesse evangelho (5.1-43).

2. O texto

Depois de um dia cansativo de ensino, Jesus convida os discípulos para atravessar o lago em busca de descanso. No meio da travessia, uma tempestade forma-se, e os discípulos apavoram-se com sua força. Como Jesus continua dormindo tranquilamente, deitado com a cabeça numa almofada, aparentemente alheio ao que está acontecendo, os discípulos acordam-no abruptamente. Jesus levanta-se e ordena para que o vento e as ondas se calem. O vento para, e tudo fica calmo. Depois Jesus pergunta aos discípulos por que eles são tão medrosos. E mais uma vez os discípulos apavoram-se diante daquilo que Jesus fez. E perguntam-se quem ele realmente é.

Acredito que a temática principal do texto de Marcos é essa discrepância entre os feitos de Jesus e a incompreensão do povo e até mesmo dos discípulos em relação a seus milagres e ensinamentos. O texto apresenta a tranquilidade e a confiança de Jesus, em contraposição ao medo dos discípulos. Jesus dorme sem se preocupar. Os discípulos ficam apavorados porque ainda não têm fé. Em sua angústia, eles pedem ajuda a Jesus.

Os discípulos são profissionais da área da navegação e da pesca. Por isso não devemos imaginar que o seu medo não tivesse razão lógica. A calma do lago da Galileia é, por vezes, interrompida por tempestades violentas. O ar frio, vindo do Mar Mediterrâneo, colide com o ar quente e úmido do lago, causando ventos e ondas. Certamente os discípulos, pescadores experientes, conheciam essa armadilha. Sem contar que os barcos no lago da Galileia eram pequenas e frágeis embarcações. Diante do vendaval, eles ficam apavorados. A sua experiência acabou. A técnica parece já não resolver, e o medo apodera-se deles. Os discípulos não foram heróis na fé. E o fato de Jesus ficar dormindo nessa situação de extrema necessidade incomodava os discípulos. E eles, num misto de medo, escândalo e desespero, recorrem a Jesus. Jesus torna-se para eles o último recurso de salvação. Jesus Cristo admoesta os discípulos diante da falta de fé. Ainda assim, o milagre acontece. O mar revolto e o vento da tempestade são acalmados. A fé não é nossa! É dom de Deus, é graça concedida. Crer no milagre é confiar que ele é possível acontecer. Os milagres não acontecem para satisfazer nosso ego e suprir nossas faltas, mas são ação de Deus na história, que quer transformar-nos em instrumentos seus para manifestar o seu poder de mudança e transformação.

A soberania de Deus revela-se na tranquilidade de Jesus. Mas essa calma não o leva à impassibilidade. Jesus ouve as orações dos seus amigos. E atende-as prontamente, pois, diferente do que possa parecer, Jesus importa-se com os seus.

3. Meditação

Conversando com as mulheres de um grupo de OASE aqui da paróquia sobre esse texto, surgiram interpretações bem interessantes. O temporal foi com- parado aos sofrimentos que surgem ao longo da vida. Os discípulos hoje somos nós, que também, às vezes, agimos como os discípulos do texto, desesperados, gritando com Jesus. O barco é a igreja que também sofre com os temporais.

O temporal podem ser problemas familiares, doenças, mortes, dívidas, escolhas malfeitas. Precisamos exercitar a coragem de enfrentar as dificuldades. Sem a presença de Deus isso não é possível. Não adianta ficar parado esperando; é preciso fazer algo. Os discípulos foram a Jesus. Jesus tem poder. É possível vencer as dificuldades, mas é preciso ter fé e fazer alguma coisa. É preciso orar e agir. As dificuldades que nos sobrevêm não nos devem aterrorizar. Jesus mostra--se como alguém que domina os poderes que ameaçam a vida. Cura as doenças das pessoas: físicas, psíquicas, psicológicas e espirituais. É um clínico geral. Jesus é o Cristo enviado por Deus. A tranquilidade de Jesus indica-nos a única saída para esse impasse. Ele nos convida a participar dessa tranquilidade. Não a obteremos a partir de nossas próprias forças. É dom de Deus. A fé não é coisa pequena. Lutero diz na explicação do Primeiro Mandamento: “Devemos temer e amar a Deus sobre todas as coisas”. Jesus nunca nos prometeu que nada nos ameaçaria, mas que segui-lo significa tomar sobre nós a nossa cruz. É necessário estar preparado para morrer com ele e confiar em seu poder criador.

A tempestade representa uma fonte de angústia e de descontrole. Nessa situação, é difícil o exercício de esperar em Deus. Ainda hoje continua sendo muito difícil livrar-nos de nossas angústias em meio às tempestades existenciais. Mas Jesus nos assegurou de que isso é possível e ao mesmo tempo apresentou-nos o caminho com a pergunta: vocês ainda não têm fé? Essa pergunta é um convite para abrir nosso coração a uma entrega total do controle de nossa vida a ele. Só assim poderemos, como Jesus, dormir em paz em meio às nossas tempestades.

Isso é difícil para o ser humano, mas é parte dos mistérios de Deus, acessíveis a nós pela mediação de Jesus, que tem poder sobre o vento e as ondas. As dificuldades que enfrentamos com confiança aperfeiçoam a nossa fé.

Todo barco que entra no mar está exposto a enfrentar algum temporal em um ou outro momento. Igualmente nos acontece quando entramos no barco com Jesus, quando fazemos parte da sua igreja e enfrentamos o mundo. Jesus convida, não obriga a segui-lo. Seguir a Jesus implica correr riscos. Algo que, como cristãos, devemos deixar para trás é a desesperança. Se Cristo faz parte de nossa vida, ele já acalmou a tempestade. Portanto, como discípulos de Cristo, devemos refletir ao mundo a serenidade e a confiança em Deus. Esse é o testemunho que devemos dar. Jesus é o libertador do medo. Jesus acalma todas as nossas tempestades. Só ele nos pode trazer a calma da sua paz. Só ele pode tirar os nossos temores. Onde parece não haver mais chance alguma de vitória, ele se manifesta com misericórdia e graça. Deus atua na vida e na história sempre em favor da sua criação, em favor da vida dignificada.

4. Pontos para refletir na prédica

1. Identificar os temporais pelos quais as pessoas da comunidade estão passando.

2. Lembrar momentos em que milagres aconteceram. Os milagres bíblicos carregam consigo a dimensão do reino de Deus. Eles são uma demonstração do poder de Deus que aponta para a possibilidade de transformação.

3. Ter um olhar crítico sobre discursos sem gestos de fé. A fé não se pode deixar influenciar pelo que se vê (Hb 11.1). O gesto de Jesus convida-nos a deixar a timidez de lado para dar testemunho destemido de nossa confiança nele.

5. Subsídios litúrgicos

Sugestões de hinos:

HPD 98; 161; 174; 191; 216; 221.

Oração do dia:

Obrigado, meu Senhor Jesus, por me acalmares, por estar a meu lado. Fortalece a minha fé, não me deixes vacilar. Ajuda-me a viver confiando em teus cuidados, na certeza de que estás sempre a meu lado. Amém.


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Autor(a): Fabiani Appelt
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 4º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 35 / Versículo Final: 41
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2014 / Volume: 39
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 34402
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