Mateus 11.2-10

Auxílio Homilético

16/12/1984

Prédica: Mateus 11.2-10
Autor: Valdemar Gaede
Data Litúrgica: 3º. Domingo de Advento
Data da Pregação: 16/12/1984
Proclamar Libertação - Volume X


l - O texto

— João, no cárcere, ouve falar (v. 2);
— Cristo obra (v. 2);
— João envia os seus discípulos para perguntar (v. 2);
— Os discípulos de João perguntam (v. 2);
— Alguém está para vir (v. 3);
— Há gente esperando (v. 3);
— Jesus responde (v. 4);
— Jesus envia de volta (v. 4);
— Há gente ouvindo e vendo (v. 4);
— Cegos vêem, coxos andam, leprosos são purificados, surdos ouvem, mortos são ressuscitados, aos pobres está sendo pregado o evangelho (v. 5);
— Há gente achando ou não achando ... (v. 6);
— Jesus passa a falar ao povo (v. 7);
— Há gente indo ao deserto (v. 7);
— Há gente vestindo roupas finas (v. 8);
— Há gente assistindo nos palácios reais (v. 8);
— Alguém envia mensageiro (v. 10);
— Há gente preparando o caminho (v. 10).

Tudo é ação. Tudo é movimento.

Atrás de um texto que fala tão movimentadamente, só pode(m) estar movimento(s)!


2. Dois nomes emergem e se evidenciam no nosso texto: Jesus e João Batista. São nomes próprios. Jesus e João. E aqui geralmente entramos por um caminho muito duvidoso: está incutida em nós a tendência de pessoalizar, de individualizar o texto. Gostamos de fazer isso. Falamos de um Jesus-indivíduo e de um João-indivíduo.

A característica movimentada de Mt 11.2-10 leva-nos, entretanto, a refletir em termos de movimento de Jesus e movimento de João Batista. Reforça isto o fato histórico de que o 19 século foi farto em movimentos. Lembremo-nos dos zelotes, dos essênios, da comunidade de Qumran, etc.; At 5.36ss é um testemunho bíblico claro da movimentação havida na época. Não restam dúvidas de que todos esses movimentos — quer os classifiquemos de proféticos, religiosos ou sociais — precisam ser vistos em estreita ligação com as tensões sócio-políticas existentes na Palestina da época. Convergem eles num ponto comum: a insatisfação com a situação vigente; o desejo de superação dessa situação.

Em Mt 11.2-10 o ponto de convergência dos vários movimentos do 19 século está representado pelo verbo esperar do v. 3; um esperar que, além de ser movimentado e ativo, tem consequências: o cárcere (v. 2) e o deserto (v. 7). É bom lembrar que a marginalidade é o que mais caracteriza os vários movimentos da época: os zelotes estão nos morros, os essênios vivem no deserto, Jesus vem do campo, João Batista anda pelo deserto afora. É um esperar à margem da sociedade estabelecida. É um esperar à margem dos que vestem roupas finas, dos que assistem nos palácios reais. Ë um esperar em oposição à elite hierosolimita.

3. Mt 11.2-10 reivindica legitimidade para o movimento de Jesus. E a legitimidade deste movimento, conforme o texto, está justamente no fato de as obras de Cristo estarem dirigidas para a marginalidade: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho (v. 5). A marginalidade legitima, dá certeza de que o caminho está certo. E a Escritura Sagrada confirma e completa esta legitimidade e esta certeza. Escritura e marginalidade dão segurança na caminhada. Por isso Mt 11.2-10 remete a Is 35.3,6; 61.1.

4. Mt 11.2-10 não exclui a legitimidade de outro(s) movimen-to(s). João Batista, por exemplo, é mais do que um profeta (v. 9)! De maneira alguma Jesus se opõe a João no nosso texto. Muito pelo contrário: pronuncia-se favoravelmente a ele. E, curiosamente, a legitimidade do movimento de João também está na marginalidade e na Escritura Sagrada: João Batista é mais do que um profeta porque não é um homem vestido de roupas finas daqueles que assistem nos palácios reais e porque na Escritura Sagrada está escrito.

É bom lembrar-se aqui de que, do grupo de discípulos de Jesus, fazia parte — por exemplo — um zelote.

5. Mt 11.2-10 exclui a legitimidade de outros movimentos: são os que não têm base na Escritura e não são da margem. Exemplos: caniços agitados pelo vento, homens vestidos de roupas finas que assistem nos palácios reais.

II – Meditação

1. Não só no 1º. século se esperou. A espera ativa, movimentada faz parte da história como um todo. Em todos os tempos e lugares onde, nos sistemas de organização social, passa a existir uma relação de dominação e de exploração de uns sobre os outros, ali vai haver espera ativa e movimentada por parte daqueles que estão por baixo. Na história da nossa sociedade, esses movimentos de espera estão muito presentes: Palmares, Juazeiro, Sapiranga, Araguaia, Encruzilhada Natalino, etc. são nomes que lembram o deserto de João Batista e dos essênios, o campo de Jesus e o morro dos zelotes. Os movimentos pela anistia, pelos direitos humanos, pelas diretas já, pela liberdade de organização, pela vida em sua plenitude, contra a construção de barragens, pelo salário justo, pela reforma agrária, pela derrubada da ditadura, mostram como esta espera muitas vezes se torna ativa e movimentada. São movimentos que pressionam da margem para o centro, de baixo para cima. É a insatisfação dos oprimidos para com a situação vigente. É a luta dos oprimidos para superar esta situação.

2. Chamamo-nos de comunidade de Jesus. Seremo-lo de fato e teremos segurança nisso, se o nosso movimento estiver nesta linha, isto é, se estivermos do lado dos marginais: dos cegos, dos coxos, dos leprosos, dos mortos, dos pobres. Isto dá certeza de que o caminho está certo. Isto permite a gente se agarrar à Escritura Sagrada. Isto legitima a Igreja.

3. Estamos na época do Advento. Época propícia para refletirmos acerca da espera do povo de Deus. Época própria para anunciarmos e testemunharmos a vinda de Cristo ao encontro dessa espera. É também tempo para examinarmos a nossa caminhada. Na nossa comunidade há espaços para a espera ativa? Ou pressionamos de cima para baixo? Onde há sinais de cárcere, de deserto, de movimento na Igreja? Agarramo-nos com certeza e convicção à Escritura, ao Cristo crucificado e ressurreto? Ou somos um caniço agitado pelo vento? Ou assistimos nos palácios reais? Advento é tempo de movimentar-se, de mostrar sinais concretos do ver, do andar, do purificar, do ouvir, do ressuscitar, do pregar que penetrou neste mundo
com o advento de Cristo. Advento é também tempo de abertura e de apoio a movimentos de libertação legitimados pela Escritura e pela marginalidade. E, por último, tempo de avento é tempo de ter olhos abertos para movimentos que vêm de cima para baixo, que visam a manutenção da sociedade de classes.

III – Prédica

1. A espera do povo de Deus no 1º. século
— A dominação romana na Palestina
— A divisão em classes da sociedade palestinense
— A movimentação dos oprimidos

2. Leitura do texto Mt 11.2-10

3. A espera do povo de Deus no texto Mt 11.2-10
— O caráter movimentado dessa espera
— O caráter marginal desses movimentos
— As consequências desse esperar (cárcere, deserto)
— O que legitima esses movimentos

4. A espera do povo de Deus na nossa sociedade
— Movimentos do passado
— Movimentos do presente

5. Época do Advento = tempo propício para
— refletir acerca da espera
— anunciar e testemunhar o advento de Cristo
— examinar a nossa caminhada
— agarrar-se ao Cristo crucificado e ressurreto
— mostrar sinais concretos da vinda de Cristo
— ter abertura e apoiar movimentos
— ter olhos abertos para certos movimentos

6. Advento: tempo que exige movimento!

IV — Subsídios litúrgicos

1. Confissão de pecados: Senhor, os sofrimentos, a pobreza, a miséria da maioria do nosso povo clamam pela nossa opção. E nós muitas vezes, ficamos muito seguros de nós mesmos, quietos na nossa situação privilegiada. Não temos olhos para os outros. Não temos boca para os outros. Não temos mãos para os outros. Perdoa-nos, ó Deus, e ajuda-nos a tomar o partido dos fracos. Tem piedade de nós. Senhor!

2. Oração de coleta: Agradecemos-te, Senhor, pelo perdão que prometes a todos os que se arrependem sinceramente. Ajuda-nos, agora, a termos ouvidos abertos a tua Palavra. Orienta-nos, desafia-nos e envia-nos. Amém.

3. Assuntos para a oração final: interceder pelos presos, pelos sem-terra, pelos que vivem de salário mínimo, pelos desempregados, pelos doentes, pelos deficientes físicos para que resistam ao sofrimento e não se conformem com ele; pelas organizações de classe, para que sejam controladas pelos trabalhadores; pelos que são perseguidos por causa das justiças, para que não se deixem corromper e não desanimem; pela paz no mundo; pelo desarmamento; pela paz na família; pela união e organização dos pobres desta terra.


Autor(a): Valdemar Gaede
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 3º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 11 / Versículo Inicial: 2 / Versículo Final: 10
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1984 / Volume: 10
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 14673
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