Momento Atual do Diálogo Ecumênico

1º. Encontro de Bispos Católico-Romanos e Pastores Sinodais da IECLB - 6-8/05/2002

07/05/2002

Depois da promulgação do Decreto “Unitatis Redintegratio” do Concílio Vaticano II, no dia 21 de novembro de 1964, a Igreja católica vem num crescente compromisso com o empenho ecumênico - é claro, e faz bem lembrar, que foram encontradas algumas dificuldades também ao longo desta caminhada, por exemplo a Declaração Dominus Iesus. – Mas o Decreto “Unitatis Redintegratio” § 5 nos diz que: “a solicitude para instaurar a união se impõe a toda a Igreja, tanto aos fiéis como aos pastores e afeta a cada um em particular, de acordo com a sua capacidade, quer na vida cristã cotidiana, quer nas investigações teológicas e históricas. Esta preocupação já manifesta, de certo modo, os laços fraternos existentes entre todos os Cristãos...” É bom recordar que a prática ecumênica é para toda a Igreja católica, fiéis e pastores, na prática e nas investigações teológicas e históricas, no testemunho e nos estudos, na vida e na prática.

Viagens Apostólicas

O Papa João Paulo II é um incansável lutador pela causa ecumênica, e nos desafia agora ao diálogo inter-religioso. É só voltar o olhar para os encontros pela paz, realizados recentemente, em Assis, Itália – os seus escritos, seus pronunciamentos e as sua viagens apostólicas.

“De fato as viagens contínuas de João Paulo II são os resultados e os frutos de 38 anos de ação ecumênica.”

Podemos recordar todas as visitas do santo padre: a viagem a Romênia, que antecedeu as peregrinações no Egito e ao Monte Sinai, a peregrinação à Terra Santa; e as visitas sucessivas à Grécia, Síria, Ucrânia, Armênia. São viagens muito importantes do ponto de vista ecumênico.

Publicações

A Igreja católica nos últimos dez anos publicou vários documentos sobre o ecumenismo. Quero aqui mencionar alguns documentos importantes e significativos na dimensão ecumênica.

         Diretório para a Aplicação dos Princípios e Normas sobre o Ecumenismo, Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos – 1994.

         A Dimensão Ecumênica na Formação dos que Trabalham no Ministério Pastoral, Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos – 1998.

        Carta Encíclica Ut Unum Sint do Santo Padre João Paulo II, Sobre o Empenho Ecumênico – 1995

Outro elemento que vem despontando é a internet, e hoje já existem vários sites que estão favorecendo a divulgação do ecumenismo e prestando serviços de informação.


Comissões Bilaterais

Outro passo importante do mundo ecumênico é a participação da Igreja católica nas Comissões Bilaterais. Como fruto e conseqüência desse compromisso ecumênico são as publicações de documentos e declarações conjuntas.

O Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, do Vaticano, mantém treze (13) diálogos oficiais com diferentes denominações cristãs.

No Brasil a Igreja católica participa de duas Comissões Bilaterais e é responsável por algumas publicações importantes para a caminhada ecumênica e mútua compreensão.

- Comissão Nacional Católica Romana-Luterana

A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e a Igreja Católica realizaram um seminário sobre a Doutrina da Justificação, nos dias 14 e 15 de novembro de 1996, em Porto Alegre. Antecedendo e preparando-se para a assinatura da Declaração Conjunta do dia 31 de outubro de 1999, em Augsburgo.

Deste acordo foram publicadas as seguintes obras:

- Doutrina da Justificação por Graça e Fé – Declaração Conjunta – Católica Romana – Evangélica Luterana – 1998
- Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação – Declaração Conjunta Católica Romana e Federação Luterana Mundial – 1999

- Hospitalidade Eucarística – subsídio elaborado pelo Seminário bilateral misto católico romano-evangélico luterano – 2000.

- Comissão Nacional Anglicano-Católica Romana

A CONAC está celebrando seu 20º. aniversário de existência e um gesto que marcou tal comemoração foi o encontro nacional de bispos da Igreja católica com os bispos da Câmara Anglicana do Brasil. Essa comissão tem por finalidade estimular e orientar o povo de nossas Igrejas para o Diálogo Ecumênico.

Na celebração dos dez anos a Comissão publicou a obra:

Unidos no Diálogo Anglicanos e Católicos – 1992

Algumas publicações da ARCIC, em português:

Relatório Final - 1981
Vida em Cristo – Moral, Comunhão e a Igreja - 1993
O Dom da Autoridade – Autoridade na Igreja III - 1998
Comissão Internacional Anglicano-Católica Romana

Conselho Nacional de Igrejas Cristãs

Outro passo importante na caminhada ecumênica das Igrejas Católica e Luterana tem sido a participação, nos encontros de Dirigentes de Igrejas Cristãs, que se iniciaram em 1975 dos quais surge a criação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC, em 1982, em Porto Alegre. Assim como a Igreja católica participou da fundação do CONIC, no Brasil, ela participou da fundação e é membro de 52 Conselhos de Igrejas Cristãs, em diferentes países do mundo.
O CONIC tem, hoje, 10 Representações Regionais que o representam nos diferentes estados da União.

Seminários

A Igreja católica, a nível nacional e regional, tem organizado e participado de seminários de estudos e de debates, tais como:

Encontros Nacionais de Professores de Ecumenismo.
Realizou-se já o 5º. encontro e esta sendo preparado o 6º.

Encontros Ecumênicos em diferentes estados do país. No Estado de São Paulo, está sendo preparado o 7º. Encontro Ecumênico. O anterior contou com a participação de 14 denominações cristãs diferentes.

Seminários de diálogo com os Pentecostais, organizados pelo CONIC.

CF 2000 – Ecumênica

Dignidade Humana e Paz. Novo Milênio sem Exclusões. O objetivo da CF 2000 foi unir as Igrejas cristãs no testemunho comum da promoção de uma vida digna para todos, na denúncia das ameaças à dignidade humana e no anúncio do Evangelho da paz.

Que bom seria se esse gesto profético e de compromisso ecumênico se repetisse por muitas outras vezes mais .

Publicações

Hoje podemos contar com conteúdos de excelentes publicações: livros, artigos, textos e documentos, que até há pouco tempo atrás não tínhamos. Uma atitude louvável, corajosa, profética e de compromisso ecumênico foi a publicação das declarações, entre tantas, de pessoas, entidades e das Igrejas Metodista, Luterana, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC, e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB em reposta à publicação da Declaração Dominus Iesus. Tudo isso é sinal de um compromisso ecumênico. Mas, todos sabemos que o ecumenismo não pode ser apenas objeto de estudo e de especulação acadêmica e científica, mas deve ser vivenciado e testemunhado publicamente, ele não pode perder a sua dimensão profética diante da situação real que estamos vivendo: o desemprego, a violência e as drogas.

O Cardeal Walter Kasper diz: “O diálogo ecumênico não se fundamenta apenas na tolerância e no respeito devido a cada convicção humana e, sobretudo, religiosa; nem se funda exclusivamente num filantropismo liberal ou na mera amabilidade burguesa; pelo contrário, o diálogo ecumênico está enraizado na fé conjunta em Jesus Cristo e no mútuo reconhecimento do batismo, por meio do qual todos os batizados são membros do único Corpo de Cristo (cf. Gl 3, 28; I Cor 12, 13; cf. também Ut Unum Sint, 42) e podem rezar em conjunto, como Jesus nos ensinou: “Pai Nosso”.

O Rev. Jether Ramalho diz que: “há, sem dúvidas , outras manifestações de ecumenismo que ultrapassam as programadas e praticadas pelas instituições ecumênicas. Acontecem de formas as mais variadas, ricas de beleza e de singeleza. Não obedecem a grandes esquemas, mas respondem a inquietações e interpelações que vão surgindo, frente a uma nova mentalidade que lentamente vai se impondo. Não se pode negar que está se criando, cultivando uma cultura ecumênica. São novas formas de viver a fé, de não desistir dos sonhos e da esperança. Ultrapassa uma programação para se alcançar a unidade das igrejas, sem dúvida importante e insubstituível. São sinais que indicam uma nova espiritualidade-ampla, profunda, singela e amorosa.

Os sinais dessa cultura ecumênica vão surgindo de forma extremamente variada, por iniciativas institucionais, por desejos de grupos populares, pela exigência de questões sociais, pelas manifestações coletivas de alegria, de dor e de protesto frente a situações que exigem expressões coletivas. Nas situações limite, como a das greves, da morte, de graves decisões surge o imperativo de manifestação ecumênica. O povo simples está incorporando uma cultura ecumênica, ainda em formação e expansão, com necessidade de aprofundamento e maior visibilidade”. Boletim rede de cristãos das classes médias- ano x – abril-2002- Nº112.

Costumamos dizer ou ouvir que o milênio passado, foi o milênio que pecou contra a unidade, foi um período de grandes divisões no cristianismo (1054 e 1517) e um período que mais se matou pessoas, nas guerras, em nome de Deus e da religião. Sabemos que “esta divisão, sem dúvida, contradiz abertamente a vontade de Cristo, e se constitui um escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda criatura” (UR § 1).

Também é verdade que o século passado foi um período de muitas expectativas e que muito se trabalhou em prol da unidade (1948 CMI).

Desafios

- Como poderíamos, a partir do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e das Comissões Bilaterais, entrar em Diálogo com os Pentecostais, levando em conta as suas resistências contra a Igreja católica.

- Como criar novas Comissões Bilaterais, para que os diálogos específicos possam avançar ainda mais em nosso país, criando cada vez mais um empenho ecumênico.

A Comissão Bilateral de Diálogo Católico Luterano poderia pensar em criar núcleos regionais, nas áreas onde a presença dessas Igrejas é marcante.

Como superar o fundamentalismo e o fanatismo religioso existentes no mundo hoje.

- Como fazer para que o ecumenismo deixe os livros, os documentos, as Comissões e os Conselhos e comece a fazer parte da vida das pessoas de nossas Igrejas.

- Como superar as dificuldades causadas pela Declaração Dominus Iesus. Um sinal positivo aqui mencionado: as declarações de compromisso, publicadas pelo empenho ecumênico, já foi um passo importante.

- Na área da eclesiologia, o problema dos ministérios na Igreja, com especial atenção ao episcopado e na sucessão apostólica. “O Espírito Santo nos dê a sua luz, e ilumine todos os pastores e os teólogos das nossas Igrejas, para que possamos procurar, evidentemente juntos, as formas mediante as quais esse ministério possa realizar um serviço de amor, reconhecido por uns e por outros” (Ut Unum Sint § 95).

“A oração é a alma do movimento ecumênico” o que, nós, Católicos e Luteranos poderíamos fazer para que a Semana de Oração fosse ainda mais um evento relevante na caminhada e na espiritualidade ecumênica no Brasil.

- Como participar do Diálogo Inter-religioso, com as tradições religiosas presentes em nosso país, tais como: Islamismo e Afro-Descendentes. Ou o que poderíamos fazer diante desta realidade brasileira ?

- Como poderíamos dialogar com a Maçonaria, Esotéricos e Espiritualistas e com outros grupos simpatizantes do diálogo religioso, diante do pluralismo religioso. O que fazer e como fazer ?

A Igreja católica entende assim o diálogo inter-religioso: “É um relacionamento entre fiéis, que estão compromissados com a sua própria fé e enraizados nela, mas aberto ao outro fiel e ao Espírito no contexto da origem e fim comuns de todos os seres humanos... com a finalidade e compreensão mútua que dissipa preconceitos e promove conhecimento e apreciação comuns”.

Conclusão

Concluo com as palavras de João Paulo II: “O caminho ecumênico continua certamente fatigante, e talvez longo, mas anima-nos a esperança de sermos guiados pela presença do Ressuscitado e pela força inexaurível do seu Espírito, capaz de surpresas sempre novas” (Novo Millennio Ineunte § 12). “Este caminho para a unidade visível necessária e suficiente, na comunhão da única Igreja querida por Cristo, exige ainda um trabalho paciente e corajoso. Ao fazê-lo, é preciso não impor outras obrigações fora das indispensáveis cf. At 15, 28 (Ut Unum Sint § 78).

Pe. José Bizon

I. Encontro Nacional de Bispos e Pastores Sinodais
06 a 08 de maio de 2002
Porto Alegre - RS
 


Autor(a): José Bizon
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Apresentação
Perfil do Texto: Palestra - Debate
ID: 13897
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Quem conhece Deus também conhece as criaturas, as compreende e as ama, pois, nas criaturas, estão as pegadas da divindade.
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