O papel da música instrumental

11-MaRuthKratchovil
11-DraAnaRibeiro
11-Lutherrose1
1 | 1
Ampliar

   Ma. Ruth Kratochvil, Teóloga, Musicista, Cantora e Professora formada pela Faculdades EST, em São Leopoldo/RS, e pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em Porto Alegre/RS. Atua nas Comunidades de Luzerna e Joaçaba/SC

Cantemos com alegria

   O impulso de cantar nos acompanha desde a primeira infância, quando balbuciamos, pelo simples prazer de exercitar a voz e ouvir os sons que somos capazes de realizar. É assim que experimentamos os primórdios da comunicação vocal. A voz é parte da nossa identidade. O modo como a fazemos vibrar (na laringe) e soar (nas cavidades de ressonância) revela muito da nossa personalidade e de como esta é afirmada. Ao cantarmos, acionamos cerca de cem músculos, os quais realizam um trabalho coordenado, envolvendo a respiração, a formação do som, a sua ampliação e projeção, além da articulação das palavras.

   Cada voz é única, pois as dimensões de cada corpo são únicas, mas a nossa voz depende também dos aprendizados que fazemos, ou seja, de como acionamos cada músculo enquanto cantamos. Quando há maior tensão, em situações de medo ou estresse, a voz sai espremida, bloqueada. Por outro lado, quando os músculos realizam o seu trabalho de modo equilibrado, a voz flui com naturalidade, manifestando autoconfiança e força.

   É ao longo da infância que desenvolvemos a afinação que nos permite cantar corretamente. Para isso, é importante que a criança cresça em um ambiente receptivo, que se sinta amada, bem-vinda e protegida e, nesse contexto, receba os estímulos adequados. Cantar para a criança e envolvê-la com sons suaves, agradáveis e que sugiram o embalo do colo compõem os primeiros passos para desenvolver a percepção, pois aí a criança percebe o mundo como bom, seguro e acolhedor. Posteriormente, ao espelhar os sons vocais por ela produzidos, despertamos a atenção para os sons. Aos poucos, a criança aprenderá a imitar sílabas de canções (especialmente quando repetidas) e a cantar pequenas frases e melodias, de acordo com o seu crescimento geral.

   O desenvolvimento da percepção e da afinação vocal será mais efi ciente se os modelos vocais, ou seja, se as vozes dos adultos que cantam com as crianças, são saudáveis e afi nados. O adulto que não afinou na infância precisará de atendimento diferenciado para criar autoconfi ança e regenerar o aparelho fonador, devolvendo-lhe a função de expressão das emoções. Há, porém, um quadro de desafinação para o qual ainda não se conhecem alternativas: é quando o sujeito apresenta amusia – alteração neurológica que interfere na percepção de sons.

   Cantar faz parte da nossa identidade como Igreja. Nas nossas celebrações, permeadas de cânticos e hinos, convergem os aprendizados que fazemos ao longo da vida. A experiência de coletividade proporcionada pelo canto comunitário fortalece o sentimento de unidade e aprofunda os vínculos. No ato de cantar, estamos integralmente presentes e ativos: o corpo, a respiração, a atenção, as emoções e os pensamentos estão a serviço do louvor a Deus, da confissão de fé, da expressão de vida comunitária. Somos Igreja que canta! Então, que cantemos com alegria!

Para refletir, leia o Salmo 98

 

  

Dra. Ana Maria Ribeiro-Althoff , Musicista, é Doutora em Ciências da Terra e pós-doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em Porto Alegre/RS. Atua como Organista e Regente coral na Comunidade Bom Pastor, em Esteio/RS, e como Pianista correpetidora
para cantores e para o Coral Porto Alegre

Acompanhando o canto comunitário

   Pelo que se sabe, desde sempre a música esteve inserida nos rituais religiosos, nas celebrações e nos cultos. No Velho Testamento, temos registros da música como louvor e várias citações incentivam o uso.

   É bem verdade que a música nos encanta e inspira, mas não devemos perder de vista que – no caso dos cultos – melodia e harmonia nunca serão mais importantes que a mensagem textual dos cantos, pois, embora a música nos toque profundamente, ela não tem significado sagrado em si mesma. O que dá significado aos nossos cantos é o texto, são as palavras.

   Acompanho o canto comunitário há, aproximadamente, 40 anos e a minha decisão de aprender piano (aos 11 anos) foi tomada porque eu queria participar ativamente do serviço musical da Igreja, desejava participar das celebrações por meio do acompanhamento instrumental.

   Por que acompanhar o canto comunitário? Qual é o papel do acompanhador ou da acompanhadora? Afinal, a música na Igreja serve para quê?

   É inegável o papel da música no louvor comunitário: a música nos une, nos agrega, fortalece o nosso relacionamento e a nossa comunicação com Deus, reforça os nossos valores e princípios. Com a música, podemos compartilhar a fé e a experiência cristã. O acompanhador ou a acompanhadora do canto comunitário deve dar suporte a este canto, auxiliando na unificação da tonalidade, na manutenção do andamento, dando apoio harmônico ao canto e, com isso, levar adoradores e adoradoras a cantar pensando na mensagem.

   O acompanhamento nunca deve se sobrepujar ao canto ou abafá-lo. A letra dos hinos não pode ser substituída nem ofuscada pelos instrumentos. O acompanhador deve ter consciência da sua real participação no culto, tendo o cuidado de não limitar a música do culto a uma experiência puramente estética ou tratando-a como entretenimento religioso. Não é incomum que um ‘fundo musical’ provoque em nós um sentimentalismo superfi cial ou desvie os nossos pensamentos do que se pode chamar de missão divina da Igreja: adoração, proclamação, testemunho, serviço e comunhão.

   Muitas vezes, instrumentistas têm a responsabilidade de tocar no início e no final dos nossos cultos. Um prelúdio pode e deve servir como preparação e convite à adoração. Com o poslúdio, é possível deixar uma bela e suave melodia na memória das pessoas e que poderá acompanhá-las durante a semana toda! Como acompanhadores, podemos inspirar e encorajar as nossas Comunidades a cantarem com alegria. Que linda é essa missão!

  

   Ainda pequena, aprendi que deveria sempre fazer as coisas que me chegassem às mãos da melhor maneira possível. Nisso estava incluído o fazer música na Igreja. Acredito que este deva ser o alvo dos instrumentistas cristãos: unidos pelo compromisso básico com Jesus Cristo e com o serviço na Sua Igreja, oferecer o nosso melhor para glorificar a Deus.

Soli Deo Gloria!

Para refletir, leia o Salmo 92.1-4

É totalmente insuportável que em uma Igreja cristã um queira ser superior aos outros.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br