O vazio e a esperança

17/05/2006


Ó Deus, que o teu amor nos acompanhe,
pois nós pomos em ti a nossa esperança! Salmos 33:22

Numa conversa com dois jovens perguntei sobre quais os principais motivos do sentimento de vazio, de perda e de desesperança. Após alguns segundos de silêncio, como milho de pipoca na panela quente, muitas situações rapidamente foram citadas. Anotei a maioria: solidão, saudade, infidelidade, traição, desamparo, discriminação, abandono dos amigos e da família, sentido para viver, fome, desinformação, doença, dor, objetivos frustrados, medo de fracassar, desilusões, amores perdidos, humilhação, desemprego, morte, violência pessoal, psíquica e social.

Empolgados com o assunto relacionamos as respostas com as atitudes e comportamentos, comuns entre os adolescentes e jovens, que demonstram ansiedade e sofrimento, que expressam fugas e revoltas, que buscam desordenadamente caminhos e metas que superem os problemas e garantam conquistas e prazeres. A conversa continuou por muitos minutos, versando sobre os sofrimentos que afligem a juventude e a família.

Agora, motivado por essa conversa partilho uma reflexão, que contrapõe o vazio vivido pelos jovens, tão volumoso e comum, com a também volumosa e concreta esperança, a esperança vivida e experimentada pela fé.

Estavam com fome e com sede e haviam perdido toda a esperança. Salmos 107:5

O vazio cria o fatalismo e alimenta uma compreensão distorcida da natureza humana, da Criação e de Deus. Os adolescentes e jovens na situação de perda e desespero interagem e reagem, inadvertidamente, como agentes independentes, criadores do próprio destino, escolhendo rumos e comportamentos destrutivos. A partir da experiência com a dor, com o sofrimento e a exclusão, quando ainda lhes restam forças e criatividade, escolhem o caminho da auto-gestão de prazeres, objetivos e sentidos, usando as mesmas armas e a mesma dinâmica de destruição de que são vítimas. A visão é esta, que no vazio todas as propostas são boas e as melhores são aquelas que controlo, que garantem soluções e prazeres imediatos, mesmo que destrutivos.

Neste contexto apresentamos a esperança, gerada pela fé no Deus de amor, que nos salvou do pecado e da morte por meio de Jesus Cristo, como o caminho. Esta esperança propõe uma nova compreensão da realidade de conflitos, vazia de sentido, da natureza humana, da História e de Deus.

Somente em Deus eu encontro paz e nele ponho a minha esperança. Salmos 62:5

Na verdade desde o batismo somos filhas e filhos de Deus, dependentes da sua graça e cuidados. Dependentes dele somos chamados para criar e recriar o que é justo e bom. A vocação de Deus não é para o castigo e para a aflição, mas para a liberdade e para a vida. A partir da fé em Jesus Cristo e do exercício da espiritualidade aprendemos a participar da obra de vida de Deus instalada no mundo. Reconhecemos que somos limitados, imperfeitos e pecadores, porém, reconciliados pela fé, aceitamos a dependência de Deus e buscamos, com Ele, a superação do vazio e do sofrimento. Aceitamos a vocação para servir e amar, sob o cuidado e a inspiração de Deus (Pai, Filho e Espírito santo) para além dos limites do medo e dos poderes que matam. Significa que negamos a compreensão manipuladora que explica o ser humano como um ser independente e agente solitário da sua salvação. Significa que não estamos solitários no mundo na busca pela vida, mas que há um Deus libertador que propõe a nossa inclusão em seu reino, fazendo de nós testemunhas e agentes vivos da superação da realidade de morte. Testemunhamos que a dependência de Deus não é escravizante, mas, pela graça, inclui o ser humano na construção da vida como ser criativo, dotado de dons, apesar da sua fragilidade, limitação e imperfeição.

Nas situações de sofrimento, nos vazios da vida, gerados pela perda, é possível encontrar a graça de Deus, a presença viva de Jesus Cristo e a ação do espírito santo e, com Ele, realinhar o rumo, fazer escolhas novas, começar de novo, nascer de novo (2 Coríntios 5.17) para uma proposta de vida que, ao contrário da alienação e da destruição, nos prepara e nos insere em novas situações, em que é possível ser agente de solidariedade e de transformação do vazio em vida.

Proponho a todos, especialmente aos adolescentes e jovens, a experiência de um caminho novo, e encontrar nele a superação de suas dores e sofrimentos - o caminho da graça de Deus que, invariavelmente, leva à liberdade e a vida, que adota todos como seres ativos e criativos, como agentes de transformação.

Foi Cristo quem nos deu, por meio da nossa fé, esta vida na graça de Deus. E agora continuamos firmes nessa graça e nos alegramos na esperança de participar da glória de Deus. Romanos 5.2

Pastor Guilherme Lieven
 


Autor(a): Guilherme Lieven
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7582
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Procuremos sempre as coisas que trazem a paz e que nos ajudam a fortalecer uns aos outros na fé.
Romanos 14.19
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