Paz na Criação de Deus

25/02/2011

Nossa IECLB respira os primeiros ares de uma discussão sobre ecologia ao anunciar o tema para este ano. Vamos viver uma onda verde em 2011. Tive o privilégio de participar ativamente na discussão e organização da participação luterana na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio 92. E ao me preparar agora para palestras sobre o tema em Cruz Alta (RS), gostaria de compartilhar algumas frases e pensamento a respeito do tema.

Minhas impressões podem ser livremente classificadas como de uma ecologia rasa. Tampouco sei que rumos a discussão do nosso tema irá tomar ao longo desse ano. Bem por isso gostaria de partilhar alguns aspectos do tema à luz do texto bíblico, e favorecer um diálogo com quem entende de ecologia de verdade.

Quando 25 representações religiosas estiveram presentes na ECO 92, ficou claro que Bahá.i, Zen-Budismo, Judaismo, Budismo Tibetano, Hare Krishna, Igreja Messiânica, Umbanda, Luteranos, Ananda Marga, Santo Daime, Católicos, Budismo Leigo Japonês, Espíritas, Protestantes, Quimbandistas, Muçulmanos, Hunduistas... tem em comum a preocupação com o futuro do nosso planeta, da nossa casa. Alguns desses grupos religiosos tem mais intimidade com o tema, outros menos. Acho que estamos entre os menos.

Há quem acuse os cristãos como os mais condenáveis pelo desequilíbrio ecológico. O professor de história na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Lynn White Jr., afirma que a mentalidade cristã é a reponsável pela degredação ecológica. Baseia-se nos escritos de Gênesis a respeito da criação que vê no ser humano o seu auge, o que lhe permitiu subjugar todas as espécies aos seu prazer e/ou necessidade. Afirma ainda que o cristianismo apresenta uma opinião errada sobre a natureza, e, por conseguinte, esta opinião é transferida ao mundo pós-cristão de hoje. Segundo White, a atitude das pessoas para com a ecologia depende do que pensam de si mesmas em relação a tudo que as rodeia. A ecologia humana está profundamente condicionada ao que cremos acerca de nossa natureza e destino, isto é, pela religião.

Alguns dias mais tarde, de viagem ao sul, encontrei o mais famoso ecólogo brasileiro de todos os tempos, o falecido gaúcho José Lutzenberg. Começamos um diálogo ainda na área de embarque e sem melindres, colocou seu dedo em riste, e me (nos) acusou de antiecológicos cristãos.

Alguns budistas, quem sabe, se deram melhor. Uma entidade budista indiana - OSHO - se entitula o maior centro de crescimento e meditação do mundo, onde milhares de visitantes de todas as partes do mundo estão realmente experimentando esta transformação. É como um laboratório, um experimento destinado a criar o 'Novo Homem' - que vive em harmonia consigo próprio e seu meio ambiente e que está livre de todas as ideologias e sistemas de crenças que atualmente dividem a humanidade. Assim sendo o OSHO, The Zen Manifesto diz: Este é o momento! Ou os budas vencem, ou os políticos estúpidos irão destruir toda a Terra, toda a vida. Somente uma coisa pode impedí-los de destruir o mundo, que é a difusão da meditação, do silêncio, do amor, da alegria, da dança; fazendo da vida uma celebração, um contínuo e interminável festival. Osho, o místico iluminado em 1953 aos 21 anos de idade, diz: Eu sou o começo de uma consciência religiosa totalmente nova. Por favor, não me conectem com o passado, nem vale a pena lembrar dele. A OSHO é considerada uma ONG e sua proposta ecológica perpassa a meditação, o silêncio, a introspecção, o amor à natureza, o plantio com métodos naturais, criando autênticos oásis nos desertos, segundo explicam em seu folheto.

E o povo cristão? Qual a nossa esperança e como articulamos nosso compromisso?

Tenho conhecimento de apenas um grupo cristão que tenha discutido a fundo a questão ecológica naquela época. Nós, da IECLB, também tentamos fazer nossa tarefa, mas parece que ainda éramos muito inexperientes no assunto. A Visão Mundial - entidade cristã mundial de missão integral - foi signatária da carta Growing Our Future (construindo nosso futuro) a partir de um simpósio de ONG's no Arizona (EUA). Esta carta compromete com dois pontos: 1. Ética e valores implícitos no desenvolvimento pleno e meio-ambiente; 2. Resoluções para as comunidades cristãs. No primeiro ponto foi publicada a Carta da Terra, donde tiramos: Que a Conferência das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento declare a integralidade da Criação como de alta prioridade e que crie meios e oportunidades para que cada nação representada faça o mesmo. Que o alvo da integralidade da Criação, em todos os seus pontos, iclua: a) a integridade dos povos, na sua vida humana e na biosfera; b) justiça e paz através da Criação. Que o gerenciamento das mudanças globais, respectivamente do desenvolvimento e meio ambiente sustentável, reconheça a simbiose na natureza, o ecossistema e os princípios éticos. Isto inclue de maneira equitativa a participação com especial atenção aos necessitados e marginalizados - mulheres, os pobres, povos sem-terra, etc. Na segunda parte, dirigida às Comunidades Cristãs, o documento ressalta: Arrepender-se, onde necessário, do passado de práticas exploratórias. Unir-se à Igreja Cristã em todas as partes do mundo para aprender melhor as práticas de preservação do meio ambiente. Afirmar a proclamação do senhorio de Jesus Crsito acima de toda a Criação, que de maneira ativa inclue a preservação que nos é ensinada nas Escrituras.

Esta reflexão continua. Até aqui já podemos tirar algumas conclusões e certamente assumir alguns desafios práticos para que a paz reine na criação de Deus.

P. Rolf Rieck
Par. São Mateus - Joinville - SC

Tornai-vos, pois, praticantes da Palavra e não somente ouvintes.
Tiago 1.22
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