Romanos 5.1-5

Auxílio Homilético

14/06/1992

Prédica: Romanos 5.1-5
Autor: Ulrico Sperb
Data Litúrgica: 1º Domingo após Pentecostes ( Trindade)
Data da Pregação: 14/06/1992
Proclamar Libertação - Volume: XVII

1. Trindade ou três deuses?

Desde a antiguidade a Igreja é acusada de adorar três deuses. Ela não teria resistido às tentações do politeísmo reinante entre os romanos e outros povos. Assim, ela teria introduzido na sua doutrina três divindades: uma que ela chamava de Pai, outra, de Jesus Cristo e a terceira, de Espírito Santo.

Essa acusação, no entanto, não confere. A Bíblia deixa bem claro que a Trindade é composta de um único Deus que se revela a nós em três formas diferentes.

O Domingo da Trindade vem logo após o Domingo de Pentecostes (do Espírito Santo). Conforme o calendário festivo da Igreja, agora é o momento para celebrar o Deus Triúno, o único Deus verdadeiro.

Também hoje em dia temos dificuldades com a forma trinitária de Deus entrar em contato conosco. As igrejas históricas acentuam mais o Pai e o Filho. O movimento pentecostal dá um destaque maior ao Espírito Santo. Mesmo que esta constatação seja um tanto exagerada, está claro que a Trindade de Deus não é algo plenamente normal para as pessoas cristãs.

Para este Domingo da Trindade deveria haver uma disposição bem evangélica para celebrar nosso Deus Triúno.

2. Sugestões para a celebração

1 — Sugerimos um dos cantos mais antigos da cristandade, adaptado na época da Reforma (HPD, n° 86).

2 — Como confissão de fé, além do Credo Apostólico, sugerimos a confissão de Martim Lutero (HPD, n° 88):

1 — Nós cremos todos num só Deus,/ Criador de céu e terra./ Nós todos somos filhos seus;/ nele todo o amor se encerra./ Quer unir-nos com carinho,/ alma e corpo preservar-nos;/ tira o mal que há no caminho;/ perdição não há de alcançar-nos./ Protege-nos com seu amor./ Tudo está nas mãos do Senhor.

2 — Nós cremos todos em Jesus,/ Filho seu, Deus glorioso,/ eterno, como o Pai na luz,/ Deus igual e poderoso./ Foi nascido de Maria,/ pelo Espírito gerado;/ trouxe a nova da alegria,/ em favor do homem condenado./ Na cruz foi morto, mas por Deus,/ ressurgiu e retornou aos céus.

3 — Nós cremos todos com fervor/ em o Espírito Divino./ Com Deus e com Jesus, Senhor,/ o adoramos em nosso hino./ Guarda toda a cristandade/ e a conserva sempre unida;/ perdoa a iniquidade,/ nos concede a eterna vida./ Após a luta, o Senhor/ há de nos levar ao seu fulgor.

3 — Outra confissão de fé é a explicação que Lutero deu ao Credo Apostólico no Catecismo Menor:

1° Artigo: Creio que Deus me criou a num e a todas as criaturas; e me deu corpo e alma, olhos, ouvidos e todos os membros, razão e todos os sentidos, e ainda os conserva. Além disso, me dá vestes, calçados, comida e bebida, casa e lar, esposa e filhos, campos, gado e todos os bens. Supre-me abundante e diariamente de todo o necessário para o corpo e a vida; protege-me contra todos os perigos e me guarda de todo o mal. E tudo isso faz unicamente por sua paterna e divina bondade e misericórdia, sem nenhum mérito ou dignidade da minha parte. Por tudo isso devo dar-lhe graças e louvor, servi-lo e obedecer-lhe. Isto é certamente verdade.

2° Artigo: Creio que Jesus Cristo, verdadeiro Deus, gerado do Pai desde a eternidade, e também verdadeiro homem, nascido da Virgem Maria, é meu Senhor. Pois me remiu a mim, pessoa perdida e condenada, me resgatou e salvou de todos os pecados, da morte e do poder do diabo. Não com ouro ou prata, mas com seu santo e precioso sangue e sua inocente paixão e morte, para que eu lhe pertença e viva submisso a ele, em seu reino, e o sirva em eterna justiça, inocência e bem-aventurança, assim como ele ressuscitou dos mortos, vive e reina eternamente. Isto é certamente verdade.

3° Artigo: Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim também chama, congrega, ilumina e santifica toda a cristandade na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé. Nesta cristandade perdoa a mim e a todos os crentes diária e abundantemente todos os pecados. E no derradeiro dia me ressuscitará a mim e a todos os mortos, e me dará a mim e a todos os crentes em Cristo a vida eterna. Isto é certamente verdade.

4 — Também sugerimos o 1° Artigo da Confissão de Augsburgo:

De Deus — As igrejas ensinam entre nós com magno consenso que o decreto do Concílio de Nicéia sobre a unidade da essência divina e sobre as três pessoas é verdadeiro e deve ser crido sem qualquer dúvida. A saber: que há uma só essência divina, a qual é chamada Deus e é Deus, eterno, incorpóreo, impartível, de incomensurável poder, sabedoria, bondade, criador e conservador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. E contudo há três pessoas, da mesma essência e poder, e coeternas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. E a palavra pessoa usam-na no sentido em que a usaram, nesta ques¬tão, os escritores eclesiásticos, para significar não uma parte ou qualidade em outra coisa, mas aquilo que subsiste por si mesmo.

5 — Como confissão de pecados sugerimos a seguinte oração: Deus, tu cuidas de nós como um Pai bondoso e nos amparas como uma Mãe carinhosa! Muito obrigado pela vida que nos dás. Perdoa-nos se não a administramos corretamente. Na verdade fomos muito relaxados com a vida, o convívio e o ambiente que nos envolve. E o resultado disso é que estamos com medo de que já seja tarde para salvar o que resta deste mundo. Como crianças arrependidas nós te procuramos para te pedir que nos ajudes a sair desta situação chata em que nos encontramos.

Deus, tu nos ajudas e nos salvas das encrencas como um irmão amigo. Teu nome é Jesus Cristo, e tu sabes como anda nossa sociedade humana. Há miséria por todos os lados. Ficamos envergonhados em confessá-lo, mas infelizmente é verdade que neste mundo muita gente morre de fome. Como Pilatos fez contigo, nós também lavamos as mãos e tiramos o corpo fora. Dizemos que os pobres são pobres porque são preguiçosos. Mas isto é o mesmo que dizer que tu foste crucificado porque cometeste algum crime. A tua morte e a atual miséria têm uma só causa a ganância humana. Tu és Deus que se torna Irmão. Ajuda-nos a compreendermos que todas as pessoas fazem parte da tua e da nossa família. Ajuda-nos a irmos ao encontro e não contra nossos irmãos e nossas irmãs. Ajuda-nos a acabarmos com estes preconceitos que tanto prejudicam o convívio humano.

Deus, tu nos acompanhas pelas estradas da vida como um bom Companheiro Nós te chamamos de Espírito Santo. Contigo a jornada é gostosa. Mas sem ti a vi da é cansativa. O normal, porém, é que não caminhamos contigo. Como pessoas modernas achamos que podemos ir sozinhos, que não precisamos de ti. E é por is só que entramos em becos sem saída. Corremos pelas estradas, voamos pelos ares e também poluímos os mares. Usamos tecnologia de ponta. Mas para onde tudo isso aponta? Sim, sem ti, sem a tua companhia, nada disso tem sentido. Fica conosco. acompanha-nos, para podermos encher de vida a vida neste mundo.

Ó Deus Triúno, tu nos dás a vida, cuidas dela e nos acompanhas. Por isso lê louvamos e te damos vivas. Tu és o maior! Amém.

6 — Na leitura do AT (Pv 8.22-31) há um hino de louvor à sabedoria. O Espírito Divino é transcrito como a sabedoria de Deus.

7 — A leitura do Evangelho (Jo 16.12-15) mostra a Trindade. Jesus Cristo, o Filho de Deus, promete o Espírito da Verdade que virá da parte do Pai.

3. Sugestões para a pregação

Sugerimos que já preparem com antecedência e coloquem no lugar onde pregarão: um copo cheio de água, uma térmica com água fervente e um isopor com cubos de gelo.

Na hora da pregação vocês podem mostrar primeiro o copo d'água e dialogar com as pessoas sobre o valor e a importância da água. Depois abram a térmica e mostrem o vapor d'água. Conversem sobre a energia que ele produz e a sua importância para o ciclo da vida. Por fim, mostrem os cubos de gelo. Perguntem sobre a serventia do gelo.

Concluam, dizendo que, na verdade, estiveram falando sobre um mesmo ele mento em três estados diferentes. Cada um com sua importância para a vida.

Assim também o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só Deus que se mostra a nós em três formas diferentes, cada uma para nos ajudar na vida.

Sugerimos que a seguir chamem uma pessoa voluntária para a frente. Perguntem seu nome, quem é e o que faz. Por exemplo: a senhora Patrícia da Silva. Em casa ela é esposa e mãe. Sua profissão é secretária. Na congregação ela exerce o cargo de vice-presidente. Dona Patrícia é uma só pessoa, mas ela convive com as outras pessoas de maneiras diferentes. Lembram-se do 1° Artigo da Confissão de Augsburgo?

Assim também Deus age em nossa vida de três maneiras diferentes. Rm 5.1-5 fala sobre estes três aspectos:

Deus é amor (l Jo 4.16). Ele ama tudo e todos. Este amor é infinitamente grande. Deus nos dá parcelas deste amor. Ele coloca pedaços do seu amor em nossas vidas, em nossos corações. Isto é o Espírito Santo: partículas de Deus em cada um de nós. O Espírito Santo é o Deus que nos acompanha. É o bom Companheiro da nossa vida. Jesus o chamou de Espírito da Verdade, pois ele dá o verdadeiro sentido para nossa vida. Também o chamou de Consolador (Jo 16.7), pois ele nos conforta, quando defendemos a verdade e por isso sofremos tribulações.

Deus é amor. Ele ama todas as pessoas. Mesmo que sejamos pessoas pecadoras, ele nos ama. E, para nos libertar dos erros humanos, ele se tornou gente em Jesus Cristo. Cristo é Deus no mundo para salvar todo mundo. Deus se tornou gente para nos ajudar a sermos gente. Ele restabelece a relação amorosa entre Deus e o ser humano. Através de Cristo recebemos a paz com Deus. E, quando estamos em paz com Deus, nossa vida se torna cheia de vida. Por isso Cristo significa a nossa grande esperança de vida.

Deus é amor. Com muita sabedoria ele nos mostra seu imenso amor. Assim como mães e pais amam suas crianças, assim também Deus nos ama.

Nós viemos de Deus, vivemos com Deus e vamos para Deus. Deus Pai/Mãe cria nossa vida, nos dá vida. Deus Espirito Santo nos acompanha nesta vida. Deus Filho, Jesus Cristo, nos dá o acesso para a glória de Deus — hoje e no futuro.

Por tudo isso fica claro que a nossa vida sem Deus é sem sentido. Aqui vocês podem dialogar com as pessoas sobre estas duas perguntas:
— Como é a vida sem Deus?
— Como é a vida com Deus?
Procurem também exemplos do seu ambiente e do mundo atual, onde se nota que Deus está sendo esquecido ou rejeitado. Da mesma forma mostrem sinais da presença de Deus, onde Deus é incluído no convívio.

Em 2 Co 13.13 o Apóstolo Paulo usa a forma trinitária para desejar uma vida boa e digna à comunidade: A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós. E esta vida digna é descrita em Rm 5.1-5:

Temos paz com Deus, porque Jesus Cristo, o Filho, nos justificou e o Espírito Santo nos foi dado para sempre vivermos na esperança, mesmo nas dificuldades.

Ter paz com Deus é tão importante para o mundo de hoje como o foi durante toda a história da humanidade. Paulo diz (Rm 12.2): Não vos conformeis com este século. De fato, não dá para aceitar o que estão (estamos) fazendo com a vida e o mundo. O Apóstolo acrescenta: Mas transformai-vos pela renovação da vossa mente. É preciso uma mudança de mentalidade. Não pode imperar mais a lei da vantagem, a voracidade do lucro, o egoísmo total e generalizado. O importante é que as pessoas sejam libertadas da escravidão da ganância, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Então a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus (Fp 4.7).

4. Bibliografia

HOCH, L. C. Perguntando pelo sentido da vida. São Leopoldo, Editora Sinodal, 1991.

NYGREN, A. Der Römerbrief. Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1965.


Autor(a): Ulrico Sperb
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 1º Domingo após Pentecostes - Domingo da Trindade
Testamento: Novo / Livro: Romanos / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 5
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1991 / Volume: 17
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 14554
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