O tema da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil para o ano de 2011 é “Paz na Criação de Deus – Esperança e Compromisso”. O tema proposto quer nos fortalecer na esperança e nos motivar para o compromisso nestes tempos em que a Criação de Deus geme por causa das agressões que ela vem sofrendo. Feridas profundas , causadas pelas mãos humanas, trazem conseqüências cada vez mais desastrosas para a nossa própria casa que é o planeta terra. A primeira atitude humana urgente nestes tempos de tragédias decorrentes do desequilíbrio na natureza é uma atitude de respeito e de reverência em relação à Criação de Deus. A Bíblia diz que o próprio Deus reverenciou a sua obra criadora com a afirmação, sete vezes repetida no primeiro relato da Criação: “E viu Deus que o que havia feito era bom”(Gênesis 1.4,10,12,18,25,31).
Certamente uma das bonitas formas de reverenciar a Criação de Deus são os cânticos de louvor que falam da natureza criada por Deus. Lamentavelmente não são muitos os cânticos de nossos hinários que falam e conscientizam a respeito da reverência que devemos ter pela Criação de Deus. Mas felizmente temos algumas canções também no nosso HPD (nºs 481, 482, 483 e outros). Conheço um hino, bem antigo, que sempre me motivou a reverenciar a Criação de Deus. Trata-se do hino “Geh aus, mein Herz, und suche Freud in dieser lieben Sommerzeit”, composto no ano de 1656, pelo poeta-compositor Paul Gerhardt, Pastor luterano que viveu na Alemanha entre os 1607 e 1676. Não tenho esta canção traduzida para o português. Mas ela diz mais ou menos o seguinte em sua oitava estrofe: a Criação de Deus desperta todos os meus sentidos. Eu canto junto com tudo o que canta na natureza e deixo verter do meu coração todos os sons que são agradáveis ao altíssimo Deus! Paul Gerhardt entendeu, há séculos, que a natureza é como uma grande e perfeita orquestra. E nós, seres humanos, não podemos ficar de fora desta orquestra que entoa louvores ao nosso Deus. Somos parte desta orquestra.
É possível que você já tenha recebido, alguma vez, um convite para participar de um coral, de um grupo de canto, de uma banda musical ou até de uma orquestra. Talvez você tenha achado, então, uma desculpa para não participar: Não sei cantar, não entendo de música! Mas o convite que a IECLB está nos fazendo no corrente ano é no sentido de que participemos de uma orquestra diferente. É a orquestra da Criação de Deus. Desta orquestra todos nós podemos participar, sem desculpas. Nela podemos envolver todos os nossos sentidos, com diz Paul Gerhardt: visão, tato, olfato, audição e paladar. Nesta orquestra podemos VER o sol nascendo, a flor se abrindo, a paisagem se alterando nas diversas estações do ano. Nesta orquestra podemos OUVIR o cântico dos pássaros, os sons do vento e das águas. Podemos APALPAR a árvore que cresce no jardim e a fruta que amadurece no quintal. Podemos CHEIRAR as flores e a terra molhada pela chuva. Podemos SABOREAR o gosto da diversidade das frutas e do puro mel.
Assim estarão envolvidos todos os nossos sentidos numa grandiosa canção de louvor entoada ao Criador. Sendo integrantes da grande orquestra da Criação de Deus, fica excluída a idéia de que somos donos ou proprietários da mesma. Não somos donos, nem proprietários, mas integrantes. E como integrantes da orquestra fica sem sentido qualquer atitude de agressão ou de destruição. Pois estaríamos agredindo e destruindo a nós mesmos. Fomos criados não para sermos dominadores e explorados da natureza, mas integrantes da mesma. Há interdependência entre tudo o que faz parte obra criada pelas mãos e pela palavra de Deus. Não fomos colocados no centro da Criação para possuí-la e explorá-la. Estamos no centro das responsabilidades pela sua preservação. Engaiolando um pássaro, estamos engaiolando a nós mesmos. Sujando as águas e a atmosfera, estamos sujando e sufocando a nós mesmos. Não cuidando nas nossas nascentes, estamos provocando a nossa própria sede. Sejamos integrantes da grande e harmônica orquestra da Criação de Deus. Glória a Deus e paz na terra!
P. Valdemar Gaede
