Tempo para tudo... E o tempo para Deus?

12/08/2015



Certo dia, Antônio - diretor geral de uma conceituada empresa, e sua esposa Cláudia – renomada professora universitária e conferencista, estavam com dificuldades de agenda. Eles completavam 20 anos de casados naquela semana e não conseguiam encontrar tempo em suas agendas para comemorar a data em família. Também na agenda de compromisso do filho Matheus e da filha Karin não havia possibilidade de horário para estarem junto aos pais...

Esta é uma realidade triste, mas cada vez mais presente entre as famílias cristãs. E não precisa ser um exemplo de executivo bem sucedido e professora universitária atarefada, tampouco de seus filhos sobrecarregados de atividades sociais. Hoje em dia esta realidade está se tornando a rotina em muitos lares. Há tempo para tudo, mas a família vai sendo colocada em segundo ou terceiro plano. Não há mais tempo para o diálogo, para o passeio e a refeição conjunta.
Mas esta realidade vem a ser ainda mais problemática. As pessoas não estão tendo tempo para Deus, seu Criador e mantenedor. O livro de Eclesiastes, capítulo 3.1-8 nos apresenta um poema que certamente é conhecido de muitas pessoas, quem sabe também conhecido por você...

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz”.

Gente querida, é uma palavra que encara a vida como ela realmente é. Nos mostra que no tempo de nossa vida muitas coisas vão acontecer. Coisas boas e coisas ruins, coisas que gostamos e desejamos e outras que não gostamos e jamais gostaríamos de estar vivenciando. Ou seja, esta palavra nos mostra que em nossa vida passaremos por altos e baixos, e também, que tudo é passageiro, pois para tudo há um início e um fim. Mais adiante, nos versículos 12 ao 14, encontramos o seguinte:

“Sei que nada há melhor para o homem do que regozijar-se e levar uma vida regalada; e também que é dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho. Sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe pode acrescentar e nada lhe tirar; e isto faz Deus para que os homens temam diante dele”.

Aqui o autor do texto, embora há indicações que seja Salomão (não se sabe ao certo quem escreveu o livro de Eclesiastes, pois seu nome não é mencionado em nenhum lugar), nos mostra uma total dependência de Deus. Esta dependência nos aponta para o primeiro e o terceiro mandamentos do decálogo e até para a oração que Jesus nos ensinou quanto ao “pão nosso de cada dia nos dá hoje”.

Lutero, na mesma direção, comenta sobre este texto: “Por isso também não nos mandou pedir mais no Pai Nosso do que nos seja dado o pão de cada dia hoje. Isto para que vivamos e ajamos com temor e saibamos que, em momento algum, podemos estar seguros quer da vida, quer de nossos bens, mas esperemos e tomemos tudo de suas mãos, como procede uma fé genuína. Salomão dedicou quase todo o seu livro de Eclesiastes a tal ensinamento. Mostra o quanto é vão todo o intento e a audácia das pessoas, e que não é nada mais do que fadiga e infelicidade, quando Deus não é incluído, para que temamos e nos demos por satisfeitos com o presente e nele nos alegremos”.

Ao refletirmos sobre o tempo de nossa vida e nossa dependência de Deus, precisamos então saber o que as palavras gregas chronos e kairós nos ensinam. Na teologia cristã, em síntese apertada, pode-se dizer que chronos (tempo corrido, cronológico), é o tempo humano, medido em anos, dias, horas e suas divisões. Enquanto o termo kairós (tempos exatos nos quais o Senhor atua na história) descreve o tempo de Deus, que não pode ser medido, pois para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos como um dia (2 Pe 3.8). Kairós é diferente de chronos, é o tempo em que não se pode deixar passar uma oportunidade que não virá novamente — ou faz agora, ou não faz mais.

Assim nosso tempo (chronos) e tudo o que fazemos dentro dele está condicionado, inserido a um tempo maior e soberano que é o tempo de Deus (kairós). Como pessoas cristãs precisamos reconhecer que este tempo de Deus, ou melhor, que o tempo da salvação de Deus para nós já se iniciou quando Jesus veio ao mundo e tocou a terra, a humanidade com sua eternidade. Este tempo nós já vivemos parte de sua realidade, mas não totalmente, pois esta se completará na eternidade e só poderemos desfrutar a partir de nossa fé.

Desta forma, como podemos desfrutar em plenitude deste kairós de Deus já em nosso chronos, se em nossa vida não temos tido tempo para um relacionamento de fé com Ele? Este é o tempo de refletirmos o quanto temos nos afastado de Deus. Tempo de refletirmos quantas são as situações que priorizamos em nossa agenda e quantas são as vezes que não temos ouvido seu chamado, destinado tempo para ouvir da pregação de sua Palavra e de uma vida de comunhão com seu corpo, que é a Igreja.

Pergunto a você: Como está sua agenda em relação a Deus? Há lugar para o kairós de Deus ser experimentado e vivenciado em seu chronos? Se há, perfeito! Continue assim! Se não há, lembre-se: Jesus chama você ao arrependimento e ao retorno a Ele, pois o kairós já chegou. Que o bondoso Deus lhe abençoe e que haja em você o propósito de buscar, temer e amar a Deus. Destine tempo para isso em sua “agenda diária”! Amém.
 


Autor(a): P. Marcio Simões da Costa
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Testamento: Antigo / Livro: Eclesiastes / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 34430
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