Transfiguração de Jesus

Autoria P. Ms. Alexander Busch

23/02/2020

Estimada comunidade,
Jesus está a caminho da cidade de Jerusalém. Um pouco antes, no capítulo anterior, Jesus tinha compartilhado sua intenção de ir a Jerusalém, onde ele iria sofrer nas mãos das autoridades, ser morto e no terceiro dia ressuscitar. Jesus chegou até mesmo a alertar os companheiros de sua jornada, os discípulos, dizendo, “Se alguém quer ser meu seguidor, esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhe” (Mt 16.24). Mesmo com o alerta, os discípulos continuam seguindo Jesus.

No caminho, quando estavam perto de um monte, Jesus decide subir ao topo do monte, levando consigo três discípulos, Pedro, Tiago e João. Na tradição bíblica, o alto de um monte é o local onde muitas vezes onde Deus revelava sua vontade. E é isto que de fato acontece. Quando chegaram ao topo, Pedro, Tiago, João e Jesus têm uma experiência difícil de descrever com palavras. O texto diz, “ali, eles viram a aparência de Jesus mudar: o seu rosto ficou brilhante como o sol, e as suas roupas ficaram brancas como a luz. E os três discípulos viram Moisés e Elias conversando com Jesus”. Era um momento espetacular, extraordinário, fora do comum. O que os discípulos estavam vivenciando era muito mais bonito do que o horizonte que se podia avistar do alto do monte. Naquele momento e local, os companheiros de Jesus estavam enxergando além do horizonte. Eles estão enxergando a eternidade, admirando a luz e glória que brilha em Jesus. É uma experiência além da compreensão e palavras humanas. É uma experiência para ser acolhida na fé, na confiança de que Deus está se manifestando neste momento.

Foi quando Pedro teve a ideia e disse para Jesus, “Como é bom estarmos aqui, Senhor! Se o senhor quiser, eu armarei três barracas neste lugar”. Pedro queria que aquele instante ficasse congelado no tempo e no espaço para ele poder curtir aquela visão bonita e cheia de vida. Você já teve alguma experiência parecida? Aquela hora de satisfação, de alegria intensa, algo que palavras não são suficientes para descrever? Talvez a cerimônia de casamento, o nascimento de um filho, um momento de alegria marcante e intenso, que fica gravado na memória. (Todo ano durante o feriado de carnaval, os jovens que participam do Acampamento Repartir Juntos choram no último dia. A experiência no acampamento é tão bonita e marcante que a juventude não quer mais desmontar suas barracas e retornar para suas cidades de origem). 

Por isso não é de se surpreender que Pedro pergunte, “posso armar três tendas, uma para Jesus, outra para Moisés, e ainda uma para Elias?”. Eles estão vivenciando uma experiência marcante. Até mesmo Moisés e Elias estão presentes nesta visão da eternidade. Lembrando que Deus se revelou a Moisés no alto de uma montanha, lhe dando as tábuas dos X mandamentos para entregar ao povo de Israel. E Elias, por sua vez, é aquele profeta, que, segundo o livro de 1Reis, estava bastante deprimido, escondido em uma caverna no alto do monte Sinai, quando Deus levantou Elias de sua depressão e o enviou de volta ao povo para continuar sua missão como profeta.

Moisés e Elias, duas figuras importantes da história do povo de Israel, e Jesus, envolto em glória e luz, uma visão da eternidade preparada por Deus para seu povo. Podemos imaginar porque Pedro, Tiago e João querem permanecer no alto do monte? Podemos compreender seus sentimentos e desejo de ficar ao lado de Jesus no topo da montanha, longe das tarefas e dificuldades lá de baixo? Mas aqui vem uma pergunta importante: Não é este também o risco para a igreja, olhar para Jesus e esquecer o mundo, olhar para Jesus e ignorar as tarefas e dificuldades que existem lá embaixo? Certamente que sim.

A história do evangelho prossegue nos dizendo que “uma nuvem brilhante cobriu os discípulos, e da nuvem veio uma voz, que disse, ‘este é o meu Filho querido, que me dá muita alegria. Escutem o que ele diz!’” (Mt 17.5). Escutem o que Jesus Cristo diz. É a voz de Deus dizendo para os discípulos, dizendo para nós: Jesus o Messias é maior do a lei do Antigo Testamento representado por Moisés; Jesus o Messias é maior do que a mensagem dos profetas representado por Elias. Jesus é o ápice, o topo da revelação de Deus. Jesus é o eterno Filho querido de Deus. “Escutem o que ele diz”. Deus revela Jesus como Senhor e mestre. É ele a quem devemos ouvir. É Jesus quem demarca o caminho que devemos percorrer. É ele quem define a vida que devemos viver. “Escutem o que ele diz”.

E Jesus fala aos discípulos, conduzindo Pedro, Tiago e João do alto do monte de volta ao mundo, de volta aos demais discípulos, de volta ao caminho para Jerusalém. Na descida surge a pergunta sobre o profeta Elias. No tempo de Jesus existia a expectativa quanto ao retorno de Elias que iria preparar o caminho do Messias, o salvador prometido. Isto porque segundo 2Reis, o profeta Elias não sofreu a morte física e foi levado embora por uma carruagem de fogo. Na sua explicação, Jesus diz que Elias já havia retornado, mas não da maneira esperada. Elias havia retornado na pessoa de João Batista. Jesus não está ensinando a reencarnação do espiritismo, mas dizendo que João Batista representa o profeta Elias. É João Batista quem preparou o caminho do Messias.

E o caminho do Messias é o caminho da cruz. “Assim também maltratarão o filho do Homem” diz Jesus a respeito de si mesmo. Ele é o filho querido de Deus e também o filho do homem, uma expressão que quer dizer, Jesus se identifica com as pessoas. O Messias Jesus é também o ser humano que se coloca a serviço das pessoas ao seu redor. Jesus o Messias não se isola nem se esconde num monte alto, mas escolhe estar entre as pessoas. Jesus decide caminhar neste mundo entre as tarefas e dificuldades terrenas, incluindo os seus inimigos em Jerusalém: as autoridades romanas e lideranças judaicas. A tal ponto o Messias Jesus está disposto a se entregar em favor do próximo que ele entrega sua própria vida na cruz. A intenção do Filho querido de Deus não é permanecer no topo. Ainda há trabalho a fazer. Ainda existe uma missão a cumprir. Sobre isto o pastor luterano Bonhoeffer certa vez escreveu, “No caminho para a eternidade, a pessoa cristã não tem uma rota de escape das tarefas e dificuldades terrenas, mas, como Jesus Cristo, tem que beber do copo da vida terrena até a última gota, para morrer e ser ressuscitado com Cristo”

Assim sendo, os discípulos, incluindo você e eu, nós estamos acompanhando Jesus nesta missão. É preciso retornar ao mundo das tarefas e dificuldades terrenas. É necessário descer o monte e retornar para as pessoas que ficaram lá em baixo. Jesus chama seus seguidores e seguidoras para morrer para si mesmo e viver para Jesus. Isto significa assumir novas prioridades e valores que nos conduzem pelo caminho. Em outras palavras, como afirma o Tema do Ano 2020: “Viver o Batismo”. No lema bíblico Jesus afirma, “Eu escolhi vocês para que deem fruto” (Jo 15,16). Jesus nos chama para viver com ele, lidando com as tarefas e dificuldades que existem na vida das pessoas ao nosso redor, participando da vida em comunidade com outros irmãos e irmãs, doando seu talento musical nos cultos, servindo no presbitério/diretoria da comunidade ou no Culto Infantil, indicando às crianças e aos jovens o caminho de Jesus, indo ao encontro das pessoas adoecidas ou enlutadas, representando Jesus na tua família e no local de trabalho, orando pelos pastores, pelas lideranças, orando para que Deus continue edificando sua igreja.

Estes são apenas alguns exemplos de como podemos seguir Jesus neste mundo, escutando sua voz e participando de sua missão neste mundo. Queira Deus abrir nossos ouvidos para ouvir a voz de Jesus. Amém.


Autor(a): P. Ms. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 17 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 13
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 55296
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