Vinte e oito anos após a realização da décima primeira edição do ARJ, que aconteceu em Barra do Sarandi, em Aratiba-RS, na Paróquia de Erechim, tive a oportunidade de voltar àquela comunidade; agora não mais como um jovem entre os jovens, mas como pastor ordenado. Lembro que naquela época a comunidade estava se despedindo do “matinho”, lugar em que o acampamento aconteceu. Aquele povo teve que deixar para trás a Igreja, o clube, o cemitério e toda uma vila. Tudo foi relocado, pois seria inundado pelas águas. Naquela oportunidade o pessoal da Comissão Regional dos Atingidos pelas Barragens - CRAB - nos falou de sua luta, do sofrimento do povo e de como eram conflituosas as negociações com a Eletrosul. Percebemos que não havia limites para a ganância do progresso, que se impunha à vida d@s atingid@s.
Agora, na trigésima sexta edição do ARJ, vimos essa história ser contada em testemunhos, lamentos, denúncias num misto de saudade e resistência. Mas, sobretudo numa alegria contagiante. Alegria por sediar novamente o ARJ, que foi um marco alentador para uma igreja que se importava com a vida dos seus. Alegria por receber jovens que continuam sonhando com a justiça e paz se beijando, assim como nos relata o Salmo 25. Graças à resistência do Movimento dos Atingidos pelas Barragens, as indenizações se tornaram uma realidade. A luta foi uma referência para os procedimentos nas futuras indenizações de outras barragens que viriam. Valeu à pena?!? Uma vila toda foi re-locada, vidas foram fragmentadas, o povo foi espalhado, a comunidade foi esfacelada. Apesar de terem algo do patrimônio indenizado, histórias ficaram submersas, não apenas na memória, mas literalmente em baixo das águas.
Então nos perguntamos no ARJ sobre o que é a paz? Pode haver paz sem justiça? Claro que não! E se a justiça é conquistada na luta, então não há paz sem luta pela paz! Porque Paz não é passividade. Assim, com o testemunho daquele povo, iniciamos o 36º ARJ. Participaram conosco 170 jovens dos três sínodos: Uruguai, Noroeste Rio-Grandense e Planalto Rio-Grandense. A paz que espalhamos não foi aquela de um mero sentimento ou desejo, foi gesto concreto. Construído ao longo dos três dias em que estivemos reunidos. Nos gestos da comunidade e paróquia que nos acolheu, nas palestras e nas oficinas que tematizaram a construção de um mundo de paz sob diversos aspectos. Na convivência entre os jovens, nas dinâmicas e nas brincadeiras. Ah, sim teve o tradicional bailinho que foi bom demais, divertimento saudável entre pessoas de fé que se respeitam. E principalmente, tivemos na ênfase bíblica, com gincanas e exposições, o auge de nosso acampamento.
Quem fez esse acampamento ser especial foram @s jovens. O que tocou a todos foi a integração e a interação entre @s participantes. Este sempre foi o espírito do nosso acampamento: Repartir Juntos. Levamos para o ARJ e de lá trouxemos um pouco do que somos: parte de uma Igreja que não está fora do mundo. Porém, não age conforme a lógica deste mundo. Somos uma Igreja jovem que perpassa os tempos se importando com os mais fragilizados, que promove o diálogo, que acolhe, que inclui e se insere na luta por um mundo melhor; mais justo e bom para todos. Uma Igreja que se envolve e promove a verdadeira paz: a paz que Cristo nos dá! Porque no coração do Reino de Deus cabemos tod@s nós e em nosso coração cabem aquel@s a quem Deus coloca em nosso caminho; especialmente @s que são colocados à margem da sociedade! E é por isso que gritamos bem alto: queremos paz! É por isso que não negamos a luta, pois a luta pela paz também traz a cruz! Esse é o nosso testemunho. É isso que nos faz ser Juventude Evangélica através dos tempos. Pois, Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre! (Cf Hebreus 13.7,8ss)
E por fim, não há como nominar alguém em especial, tod@s foram importantes para o sucesso do acampamento. E sempre corremos o risco de esquecer alguém. Contudo, não podemos deixar de lembrar com carinho a todos da Paróquia Evangélica de Erechim, da Comunidade de Barra do Sarandi, Aratiba e as pastoras Ettiene e Alice. Vocês tocaram nossos corações, cercando-nos de um cuidado carinhoso. O mesmo cuidado de 28 anos atrás... e isto precisa ser testemunhado: esta Igreja continua jovem. Jovem que não se esquece dos seus ideais de justiça, dos seus membros e jamais nega a fé em Cristo Jesus; que nos deixou a sua paz! Paz não como o mundo a dá! (Cf. João 14.27)
Valeu jovens, até o próximo Acampamento Repartir Juntos em Buriti - RS, no Sínodo Noroeste Rio-Grandense! Fiquem com as palavras do cartaz que vos acolheu na entrada do pavilhão de Barra do Sarandi: “Paz seja convosco”. 2020 nos encontramos no 37º ARJ.
Pastor Marcos Cesar Sander
Pela Coordenação do 36º ARJ