A caminho, com fôlego

Artigo

06/06/2003

Vivemos a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Atividade essa que é abraçada pelo Movimento Ecumênico Internacional e coordenado no Brasil pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic). Essa oferta de mutirão de oração e de comunhão desemboca no domingo de Pentecostes. Deus envia o Consolador, o Espírito da Verdade a seus discípulos, suas filhas e seus filhos. O Espírito Santo promove reconciliação, encoraja e traz esperança. Deus mesmo reúne seu povo, cria comunidade, abre os olhos, fortalece os serviços em nome da fé e dá novo sentido à vida. É Deus quem desafia ao relacionamento solidário entre povos, raças e culturas religiosas. As ações de Deus, pautadas no amor e na justiça, permitem sonhar com um mundo mais fraterno e pacífico..

O futuro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) se torna impensável se desconsiderarmos os esforços conjuntos, construídos no espírito ecumênico. A vivência ecumênica das igrejas corresponde às expectativas da figura que o apóstolo Paulo usou para descrever a comunhão eclesial. Ele desenha a unidade da Igreja a partir da figura do corpo de Jesus Cristo. Cristo é a cabeça do corpo e nós, os membros, somos batizados para dentro desse corpo. Todos os membros, diferentes entre si, se submetem às orientações, à Boa Notícia e ao exemplo deixados pelo Senhor da Igreja, Jesus Cristo. Apesar do inverno ecumênico, que se apresenta periodicamente e se revela como um freio no relacionamento entre as igrejas, seríamos cegos se não enxergássemos os avanços positivos alcançados através de diálogos multilaterais. São esses esforços que fundamentam novas ações éticas no tocante à aceitação e ao respeito mútuo, bem como oferecem crédito em relação ao empenho conjunto pela paz e na superação da dor e do sofrimento humano.

A sociedade nacional e também a comunidade internacional olham com aflição e incerteza para o contexto que as cercam. Na ordem do dia, somos confrontados com as marcas dos conflitos internacionais, as guerras cruentas, a violência, fruto da desumanidade, gerando medo, desespero e sofrimento. A fragilidade da vida se manifesta nos crimes cometidos do cotidiano, nas torturas, mas também é visível nas diferentes formas da discriminação social, em razão da raça, da cultura e também da convicção religiosa. As políticas protecionistas, na verdade, estratégias diabólicas, atos de caráter unilateral gerenciados pelos grandes impérios econômicos, impossibilitam o desenvolvimento equilibrado e justo de todas as nações. O desrespeito à humanidade, somado à agressão ao mundo que nos acolhe, desafia as igrejas ao diálogo que fortalece a confiança e o conhecimento mútuos. As ações conjuntas pressupõem e enfatizam a confiança e a amizade fraterna. Organismos ecumênicos internacionais, aliados às igrejas, assumiram no decorrer da história a função profética. Desempenharam a tarefa como porta-vozes de igrejas comprometidas com o direito de uma vida digna inerente a toda a criatura divina.

Por outro lado, é preciso destacar que organismos ecumênicos têm apoiado de forma positiva e crítica as políticas que favorecem a integração dos mais carentes e necessitados, visando à superação da fome, da marginalidade social e da miséria humana.

O empenho por uma postura dialogal e de abertura ecumênica entre as igrejas revela avanços e retrocessos, satisfações e decepções. Por essa razão, é preciso fortalecer o processo de aproximação estando em permanente movimento. No Antigo Testamento, a pessoa de Abraão foi chamada e encorajada a seguir em frente. O Deus que chama é também aquele que coloca sua mão protetora sobre os ombros de Abraão para apoiá-lo e abençoá-lo. As igrejas precisam de muito fôlego ecumênico, é o que atesta o presidente da IECLB, Walter Altmann. No caminho para a vila de Emaús, os discípulos de Jesus caminhavam juntos e conversavam, fortalecendo-se através do diálogo. Seguir em frente pressupõe que se tenha clareza quanto ao objetivo a ser alcançado. Quando se fortalece o sentimento de parceria, transparece mais e mais, a sensação de estarmos unidos seguindo o mesmo caminho. Somente quem já supõe ter alcançado o alvo não enxerga mais o horizonte a sua frente. Por esse motivo se arrisca a ficar isolado e recolhido em si mesmo.

A experiência do caminho comum, em parceria e confiança, torna mais clara a novidade e a credibilidade do Evangelho. Seu objetivo é claro: fortalecer a unidade de pensamento e de ação; dedicar-se em conjunto a favor da vida abundante; e promover a comunhão com Deus e com as pessoas, sempre humanas.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 06/06/2003

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