A oração, nossa unidade com Deus e com os irmãos

06/03/2008


A oração é uma necessidade na vida das pessoas cristãs. Ela se localiza no contexto da camada mais profunda da existência. Na verdade, ela é resposta que se dá em um diálogo iniciado por Deus mesmo. Ele, em nossa vida, vem antes de qualquer gesto nosso. Ele se revela e o faz onde sua Palavra ressoa, ou melhor, acontece. Ele se faz presente junto a nós. Como Criador já no nosso nascimento ele queria exatamente a cada um de nós, bem pessoalmente.

É a cada um de nós que ele se dirige como Salvador. A relação com Deus não é algo impessoal, algo nebuloso, mas sim “pessoal”. Ela se manifesta na mais profunda realidade do amor.  Assim, gratidão e entrega confiante caracterizam a oração.
 
Por isso, a melhor maneira de se tratar com Deus é conversar com ele, assim como se conversa com uma  pessoa amiga. Isso tanto mais porque Deus, em seu Filho encarnado, apareceu-nos em rosto humano. E Jesus mesmo ensinou-nos a chamar Deus de “Abba”, Pai. A oração deve ser uma constante. Ela não é um último recurso em situações sem saída. É conhecida a história de caráter anedótico em que um capitão exclamou, quando seu navio estava no maior  dos perigos em alto mar: “agora só nos resta orar”.Um religioso teria respondido: “Mas já chegamos a esse ponto?”

Deus não é um “tapa-furo.” Dietrich Bonhoeffer, conhecido teólogo luterano, assassinado durante o Regime nazista, insistia que o lugar de Deus é no centro da vida e não na periferia da mesma. Seu lugar não é lá, onde nossa razão humana não vê mais saída. A oração não é um pedido para que Deus interrompa o curso das leis naturais. Ela expressa, muito antes, a absoluta confiança que nos fundamentos de toda existência está o infinito amor do Pai.

É nessa confiança em Deus, expressa na oração, nesse confiar-se a Deus em resposta orante, que os crentes se abrem ao próximo e ao mundo. A oração não está desligada da vida cotidiana. Ela não significa fuga da existência real. Muito antes, ela está integrada no ritmo da vida. Isso vale para os diversos tipos de oração, seja ela litúrgica,  pessoal, formulada ou espontânea. A oração de súplica (como toda oração) é expressão clara de disposição de obediência e de amor. O que alguém percebe na sua experiência de intimidade com Deus na oração, certamente deseja para o próximo e para o mundo. Não só deseja, como fará o que estiver nas suas possibilidades para que o mundo,  e tudo que ele contém, se torne mais semelhante aos desígnios do próprio Criador.

Junto com isso vai a certeza que o Senhor levará a bom termo toda sua obra. O Conselho Mundial de Igrejas celebrou sua 9a. Assembléia Geral, em Porto Alegre, em fevereiro de 2006. O tema foi: “Deus, em tua graça, transforma o mundo”. É uma oração. Mas ela não faz de Deus um mágico a nosso serviço, que fosse transformar o mundo em nosso lugar para que pudéssemos cruzar os braços. Não, essa oração compromete cada cristã e cada cristão com a transformação do mundo no sentido e de acordo com a vontade divina.

A oração leva a superar divisões e promover unidade. Temos dois exemplos que destacam exatamente isso.  Refiro-me ao Dia Mundial de Oração e à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

Os inícios do DMO remontam ao ano de 1887. Uma senhora presbiteriana dos Estados Unidos da América do Norte, de nome Darwin James, conclamou para um dia de oração dedicado à Missão Interna. Três anos mais tarde duas senhoras batistas, Henry Peabody e Hellen Barrett Montgommery, chamaram para um dia de oração em favor da Missão Externa. Os dois dias foram unificados num só evento a ter lugar anualmente na primeira sexta-feira na época da Paixão.

Após 1945 , num profundo anseio por paz, cada vez mais mulheres do mundo inteiro passaram a integrar-se ao movimento.Formou-se um comitê internacional que toma as decisões quanto a tema , material litúrgico e orientação geral do trabalho.

Sem dúvida, temos aí um belo exemplo de oração em conjunto, de busca de unidade e de ação ecumênica. Talvez devêssemos dar maior ênfase em nossas Igrejas a essa louvável iniciativa.

Outro grande exemplo de unidade entre as Igrejas é a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Aliás, no ano em curso, esse projeto completa cem anos! Por iniciativa do padre episcopal anglicano, Paul Wattson, foi celebrada, em 1908, uma oitava de Oração pela Unidade dos Cristãos, em Graymoor, Nova York. A partir de 1968 (exatamente 60 anos mais tarde) essa Semana passou a ser preparada, em conjunto,  pelo Pontifício Conselho para a Promoção de Unidade dos Cristãos da Igreja Católica Romana e pela Comissão de Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas. Em nosso país essa Semana é coordenada pelo CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil). Ela é realizada no período que antecede Pentecostes. Muitas pessoas têm em uma das celebrações que acontecem nesses dias, a sua primeira experiência ecumênica. E ficam maravilhadas ! Quem uma vez experimentou como é “bom e agradável viverem unidos as irmãs e os irmãos”, será uma fiel testemunha do desejo de Cristo “que todos sejam um”. Nunca estaremos mais próximos uns dos outros do que quando unidos em oração diante do mesmo e único Deus e Pai.
 
Temos aqui uma grande possibilidade para a participação dos jovens!  É só convidá-los. Eles têm coração aberto para a busca de comunhão e de unidade. Cansados de preconceitos, divisões, conflitos e violência no dia a dia, certamente terão prazer com  convivência fraterna e  construção da paz.

Pastor Ervino Schmidt


Autor(a): Ervino Schmidt
Âmbito: IECLB / Organismo: Semana de Oração pela Unidade Cristã - SOUC
Natureza do Texto: Artigo
ID: 6760
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Ainda não somos o que devemos ser, mas em tal seremos transformados. Nem tudo já aconteceu e nem tudo já foi feito, mas está em andamento. A vida cristã não é o fim, mas o caminho. Ainda nem tudo está luzindo e brilhando, mas tudo está melhorando.
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