Depois de enfrentar por anos uma diabete que atingiu diversos órgãos do seu corpo, faleceu ontem, nesta cidade, aos 78 anos, o bispo Helmut Frenz. Em 1965, ele foi enviado pela Igreja Evangélica da Alemanha (EKD) para servir na Congregação Martin Luther, de Concepción, Chile.
Frenz via com muita preocupação as diferenças na sociedade chilena e iniciou um período de maior integração entre as congregações e os setores mais carentes da região. Ele iniciou o trabalho com setores marginalizados de “Agüita de la Perdiz” e da “Población Lenin”, hoje Diego Portales.
O pastor enviado pela EKD foi eleito, em novembro de 1970, pastor presidente da Igreja, obrigando-o a se transferir para a capital, Santiago. Como bispo, fundou a organização ecumênica “Diaconia”.
Após a eleição de Salvador Allende para a presidência da República, em setembro de 1970, o Chile começou a receber levas de refugiados dos países vizinhos. Allende chamou líderes religiosos para ver como podiam ajudar esses refugiados. Nasceu, então, o Comitê de Ajuda aos Refugiados (Conar), reconhecido pelo Alto Comissionado das Nações Unidas. O Conar apoiou mais de 7 mil refugiados.
Com o golpe militar, em 1973, o trabalho social do bispo Frenz começa a ser questionado pro setores conservadores da igreja. Segundo essas vozes, o bispo ajudava “comunistas e marxistas”. O Sínodo extraordinário de março de 1974 explicitou o apoio dos luteranos ao trabalho do Conar.
Frenz e o cardeal católico Raúl Silva Henriquez fundaram o Comitê de Defesa de Direitos Humanos, que se chamou mais tarde de Comitê de Cooperação para a Paz no Chile. O Comitê prestava ajuda jurídica aos familiares dos prisioneiros políticos, auxiliava os despedidos de seus empregos por razões políticas a encontrar um novo posto de trabalho, e apoiava os chilenos perseguidos a deixar o país.
Em 1974, Frenz recebeu do Alto Comissionado das Nações Unidas a medalha Friedjof Nanssen, em reconhecimento ao seu trabalho humanitário.
O bispo luterano de o bispo Ariztia entregaram ao general Augusto Pinochet, presidente da Junta Militar que governou o país, no dia 11 de setembro de 1974, relatório comentando a situação de prisioneiros políticos.
Em 1975, Frenz criou a Fundação de Ajuda Social das Igrejas Cristãs (Fasic), uma das mais importantes do país na área dos Direitos Humanos. Em 3 de outubro de 1975, o bispo alemão foi expulso do Chile por causa do seu trabalho, e o governo militar dissolveu o Comitê para a Paz.
Michelle Bachelet concedeu, em 30 de julho de 2008, a nacionalidade chilena a Helmut Frenz, que, nas palavras da então presidente da República, há muito tempo pertence à comunidade chilena, pela defesa dos Direitos Humanos num dos períodos mais obscuros e dolorosos da história do país.
“Estou convicta de que, o fato de ter vivido num país submetido ao terror nazista e experimentado na própria carne os horrores da guerra, unido a uma profunda reflexão – que acompanhou sua formação teológica – acerca de como uma sociedade civilizada pode cair num abismo da desumanidade, motivaram sua rápida capacidade de reação num país onde muitos estavam atônitos ou paralisados pelo medo ou pelo ódio”, disse Bachelet na ocasião.
Helmut Erich Walter Frenz nasceu no dia 4 de fevereiro de 1933 em Allen-Stein, Ostpreussen, Alemanha. Estudou na Universidade de Bonn, de Göttingen e de Kiel. Em 1959, foi ordenado pastor na igreja Fehmann, Ostpreussen, na Prússia Oriental, onde ficou seis anos.
Doutor Honoris Causa pela Universidade Arcis, do Chile, Frenz foi eleito, em 1976, secretário executivo da organização humanitária Amnesty International, em Hamburgo. De 1999 a 2005, foi Comissionado para os Refugiados e Asilo a Emigrantes, em Schleswig-Holstein, Alemanha. Ele deixa enlutados oito filhos e filhas, de dois casamentos.
fonte: ALC
