“Quando ainda no primeiro quarto do século passado, imigrantes e seus descendentes, preponderantemente alemães, se empenharam no sonho de prover a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, com um hospital que se caracterizasse pelo cuidado à saúde, com esmero e qualidade, incluíram em seus planos não apenas o cuidado estritamente médico, mas também o humano e espiritual. Buscaram na Alemanha diaconisas evangélicas que vieram a dar o cuidado de enfermagem, o acompanhamento espiritual e, nos primórdios, até mesmo a direção do novo hospital”, lembrou o pastor presidente da IECLB, Dr. Walter Altmann, durante o culto realizado no dia 1o de outubro, celebrando os 80 anos de existência do Hospital Moinhos de Vento (HMV). O culto ecumênico, que marcou o início das comemorações do aniversário do HMV, teve ainda a participação do arcebispo de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings, do rabino da Comunidade Judaica de Porto Alegre, Mendel Liberow, e do pastor do Hospital Moinhos de Vento, Ivo Lichtenfels.Foto: Rômulo Valente, Hospital Moinhos de Vento
O Moinhos de Vento nasceu com um cuidado integral à pessoa humana, na sua saúde física e espiritual. Hoje, passados 80 anos, o desenvolvimento das ciências médicas sofisticou bastante o tratamento das doenças, mas, embora em modalidades diferentes, o hospital preserva as suas características iniciais por meio de seu serviço pastoral. Na atualidade, há quem considere esse cuidado integral à saúde humana como algo supérfluo. Há quem considere dispensável essa preocupação com a identidade humana para além da morte. Há quem considere alienante o crer na ressurreição e na vida eterna. Há quem não veja sentido na fé em Deus.No seu livro A Linguagem de Deus, Francis Collins, um dos mais renomados cientistas do nosso tempo, diretor do projeto Genoma – que decifrou o código humano – conta por que ele crê em Deus e não vê contradição entre ciência e fé. “No estudo da medicina, Collins declara que adorava o estímulo intelectual, os desafios éticos, o elemento humano e a incrível complexidade de seu organismo”, relatou Altmann. Ao mesmo tempo, converteu-se, aos poucos, de agnóstico em ateu. Em 1973, quando passou a ser parte do Projeto Genoma Humano, teve a possibilidade de participar de um dos maiores empreendimentos históricos da humanidade. E foi o acompanhamento de seus pacientes que mudaria a sua visão do mundo, da existência humana e de Deus. Nas palavras do cientista: “Achei os relacionamentos que desenvolvi com pacientes enfermos e moribundos arrebatadores, e lutei para manter a distância profissional e a ausência de envolvimentos emocionais que muitos de meus professores defendiam. O que deixou marcas profundas em mim, após minhas conversas ao pé da cama com aquelas pessoas da Carolina do Norte (EUA), foi o seu aspecto espiritual. Presenciei vários casos de indivíduos cuja fé lhes supria com uma reafirmação da crença sólida, de paz definitiva, fosse neste mundo ou no outro, apesar do sofrimento terrível que lhes era infligido.” Aos poucos, Collins passou a perguntar pela existência de Deus. Jogado de um lado a outro por suas perguntas e suas dúvidas, resolveu, por fim, dar o salto da fé.“Não sei se não é ousadia expor essa reflexão em um momento como o de hoje”, avaliou o pastor presidente da IECLB. “Contudo, quis com esse exemplo exaltar a opção de atendimento integral à saúde do ser humano que caracteriza esse hospital, de inspiração bíblica e evangélica, sempre em perspectiva ecumênica. Somos neste momento lembrados da prática de Jesus que disse ‘Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes.’ E acrescentou: ‘Não vim chamar justos, e sim pecadores.’ (Marcos 2.17) De forma integral, Jesus se dedicou aos necessitados de seu tempo”, confirmou Altmann. “Assim, ao me congratular com o Hospital Moinhos de Vento, em seus 80 anos, desejo que essa visão do atendimento integral do ser humano continue sempre pautando o labor desenvolvido nesta casa.”
