Lideranças religiosas avaliam derrota do "sim" no referendo

28/10/2005

Passada a ressaca da vitória do “não” no referendo sobre a comercialização de armas de fogo e munição no Brasil, realizado no domingo, 23, é momento de avaliar porque a mensagem das igrejas, de total apoio ao “sim”, encontrou tão baixa repercussão na sociedade.

O “não” venceu o referendo com 59,1 milhões de votos (63,94%), enquanto o “sim” recebeu 33,3 milhões de votos (36,06%), resultado final anunciado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dos 122 milhões de eleitores brasileiros, 95,3 compareceram às urnas no domingo.

O bispo católico da Diocese de Santa Cruz do Sul, dom Aloysio Sinésio Bohn, disse para a ALC que a campanha do “não” conseguiu convencer a população de que o voto a favor da proibição do comércio de armas e munição representaria a perda de um direito. As igrejas não conseguiram veicular de forma convincente e sistematizada a sua tese de apoio ao desarmamento, reconheceu.

Dom Sinésio Bohn revelou que conhece dois bispos que votaram a favor do “não” no referendo. Ele próprio ficou em dúvida em empenhar a sua autoridade episcopal sobre uma causa que, a seu ver, está pouco clara. “O fato é que esse plebiscito ocorreu fora de hora e não nos preparamos bem nem mesmo dentro das igrejas”, admitiu.

Para o bispo metodista Luiz Vergílio Batista da Rosa, de Porto Alegre, a ampla vantagem de quase 30 pontos percentuais a favor da comercialização de armas e munições no país revelou um processo de divulgação de propostas político-partidárias durante a campanha. Com isso, avaliou, perdeu-se o foco, que era a busca por uma sociedade desarmada e o referendo transformou-se num pleito a favor ou contra o governo.

O bispo da Segunda Região Eclesiástica da Igreja Metodista disse que a palavra das igrejas a favor do “sim” ficou restrita ao seu próprio contexto. Embora houvesse consenso nas igrejas, não houve uma articulação comum e nem mesmo a manifestação conjunta através de uma só palavra, disse.

Questionado quanto à expressiva adesão ao “não” no Rio Grande do Sul, que registrou 86,83% dos votos, Vergílio disse que o Estado é, historicamente, um foco de resistência por causa de fatores culturais. Assim, esse resultado não representa um desprestígio à palavra das igrejas. “O fato é que o referendo se tornou uma discussão sobre o apoio ou não às políticas de segurança pública”, frisou.

Ao proibir o porte de armas, o Estatuto do Desarmamento já contribuiu para uma sensível queda no número de mortes por arma de fogo no país, declarou o presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), pastor Walter Altmann. Mas muito mais deverá ser feito, pois a segurança continua sendo uma das preocupações básicas da população, acrescentou.

Quanto ao referendo, a população “simplesmente temeu ficar à mercê dos bandidos se votasse ‘sim’”, analisou Altmann. A campanha do “não” saiu vitoriosa porque a população foi convocada a se pronunciar sobre a proibição do comércio de armas antes de se sentir em condições de confiar na segurança pública, disse.

Em artigo do bispo Redovino Rizzardo, do Mato Grosso do Sul, o religioso mencionou três motivos pelos quais o “não” consagrou-se vitorioso no referendo de 23 de outubro.

Primeiro, ele citou a questão da violência que aflige o povo brasileiro. Segundo, destacou que o voto no “não” foi uma mensagem às autoridades políticas, especialmente ao presidente Lula, incapazes de implantarem políticas de segurança pública eficazes.

Por fim, levantou a hipótese de que muitos católicos optaram pelo “não” em protesto aos sacerdotes e religiosos que, nos últimos 20 anos, apresentaram o Partido dos Trabalhadores (PT) como aquele que “mais se identificava com o reino de Deus, com um projeto grandioso de transparência e justiça social para todos”. O voto foi, então, um protesto contra quem “apadrinhou uma esperança que se transformou numa nova decepção”.

Foi uma derrota significativa para a cultura da paz, definiu o coordenador de Religião e Paz da ONG Viva Rio, André Porto. “Acreditamos que foi mais um ‘não’ de revolta contra o governo e à falência da segurança pública do que necessariamente contra o desarmamento”, afirmou. Tanto que o desarmamento mereceu amplo apoio da população, como se viu na campanha de entrega de armas em 2004 e 2005. No total, foram recolhidas 464 mil armas na campanha.


Fonte: Micael B. Vier - ALC
 

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