O empoderamento das mulheres rurais e seu papel na erradicação da pobreza e da fome: desenvolvimento e desafios atuais.

15/03/2012

As mulheres são as principais responsáveis pela produção de alimentos na agricultura. Na América Latina essa produção significa mais de 50%. Mesmo assim, as mulheres rurais sofrem com a falta de acesso a terra, com a expansão do agronegócio, o cultivo com o uso de agrotóxicos e são também as mais afetadas pelas mudanças climáticas e o aquecimento global.

Foi para discutir esta situação global e o papel das mulheres na produção de alimentos e no combate à fome e a pobreza, que os estados membros da ONU e a sociedade civil estiveram reunidos em Nova Iorque, durante a 56ª Comissão do Status da Mulher na ONU – CSW 56, que aconteceu de 27 de fevereiro a 9 de março de 2012 sob o tema: O empoderamento das mulheres rurais e seu papel na erradicação da pobreza e da fome: desenvolvimento e desafios atuais.

Foram 2 semanas de intensos debates e tentativas de acordo. Enquanto a sociedade civil se reunia nos mais de 700 eventos paralelos à CSW , apresentando as mudanças na qualidade de vida das mulheres rurais ao redor do planeta e os desafios ainda tão presentes na vida de milhares de mulheres, os estados membro da CSW tentavam, além de acordar sobre prioridades a compor o documento final sobre o tema prioritário, formular políticas concretas de promoção de igualdade de gênero e empoderamento de mulheres ao redor do mundo, especialmente as mulheres rurais.

Entre os diversos grupos de organizações de mulheres presentes na sessão está a coalisão de Mulheres Ecumênicas nas Nações Unidas, da qual a Federação Luterana Mundial - FLM faz parte. Como jovem filha de agricultores, membro da IECLB, igreja membro da FLM, e por trabalhar no Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor – CAPA, junto aos agricultores e agricultoras familiares, tive a oportunidade de participar da CSW 56, junto com Jeannete Ada Maina, da Igreja Evangélica Luterana de Camarões, representando as mulheres rurais da FLM.

Como ponto forte da minha participação no evento como representante da FLM fui responsável, junto com Jeannete e outras mulheres que trabalham na Igreja Evangélica Luterana da America - ELCA, por um evento paralelo à CSW 56, intitulado De um potencial empobrecimento a sementes de sustentabilidade. Na oportunidade, apresentei minha história de vida e o trabalho do CAPA, enfatizando como, através da prática da agroecologia, as mulheres rurais atendidas pelo CAPA tem conquistado seu espaço nas propriedades de agricultura familiar e se tornaram protagonistas e líderes frente a cooperativas de produção de alimentos, conforme trecho que segue:

“A agroecologia tem como objetivo a sustentabilidade da propriedade com base na qualidade de vida e inclusão de todos os membros da família. Portanto, não há uma propriedade sustentável ou uma agricultura sustentável sem a inclusão das mulheres. Estas mulheres, que eram invisíveis ao longo do tempo, são agora protagonistas no desenvolvimento de cooperativas, na gestão das propriedades, na produção e venda de seus produtos . As mulheres conquistaram seu espaço, reconhecendo a importância do seu trabalho para a segurança alimentar de suas famílias e grupos, a importância de seu conhecimento a respeito dos cuidados com a saúde e a proximidade de seu trabalho com as práticas de agroecologia. As mulheres estão combatendo a fome e a pobreza através da produção de alimentos orgânicos e através da agricultura sustentável com base no cuidado com a natureza, uma prática que ao longo do tempo foi sendo esquecida. Hoje, as mulheres apoiadas pelo CAPA são capacitadas para liderar grupos, e estão na coordenação de cooperativas e associações, trabalhando em sua propriedade em igualdade com os homens e têm acesso a recursos importantes para o desenvolvimento de suas atividades. Através da agroecologia, as mulheres começaram a apreciar o seu trabalho e a reconhecê-lo, começaram a se organizar em grupos, cooperativas e redes de solidariedade, permitindo a capacitação e fortalecimento de seu trabalho, também através da venda direta dos produtos aos consumidores por um preço justo.”

Além dos eventos paralelos, como representantes da FLM tivemos a oportunidade de participar como ouvintes das sessões oficiais da ONU, além de defender junto às missões dos países membros da CSW as prioridades, relevantes para o empoderamento de mulheres rurais, eleitas pelo grupo ecumênico de mulheres para compor o documento final da CSW 56. Entre as prioridades defendidas pelas Mulheres Ecumênicas estavam mudanças climáticas, agricultura e segurança alimentar, acesso à educação, transporte e acesso a recursos, acesso a cuidados médicos e isolamento e exclusão dos espaços de tomada de decisões.

A CSW 56 teve sua cessão de encerramento no dia 15 de março, quatro dias após o esperado, sem conclusões acordadas entre os países membros, deixando a comunidade e todas as representantes das mulheres rurais muito decepcionadas, pela incapacidade dos países em acordar em políticas essenciais para a inclusão das mulheres rurais.

Como disse a Diretora Executiva da ONU Mulheres, a ex-presidente do Chile, Michelle Brachelet, em suas palavras durante a sessão final da CSW 56: “Esperamos sinceramente que a falta de conclusões acordadas não signifique que os Estados Membros não vão fazer o necessário para melhorar a qualidade de vida de mulheres e meninas rurais em todas as dimensões e garantir os seus direitos.”

Como participantes e representantes das mulheres rurais também nos decepcionamos por retornar sem uma conclusão oficial do evento. No entanto, a experiência de conectar-se com outras mulheres e compartilhar experiências que tem contribuído para a igualdade e cooperação entre homens e mulheres ao redor do mundo foi sem dúvida muito positiva.

Ainda precisamos avançar bastante, principalmente nas discussões a respeito de desenvolvimento sustentável, para que este leve em consideração e inclua também as mulheres. Precisamos, primeiramente, pensar na preservação de nossa diversidade para obter sustentabilidade. Assim, não haverá desenvolvimento sustentável se não pensamos na inclusão das mulheres, dos jovens, dos empobrecidos, enfim, de toda a sociedade. Não há diversidade sem a inclusão de todos e, para esta inclusão, precisamos educar as pessoas para que elas conheçam e lutem pela garantia de seus direitos.
 

Daniele Schmidt Peter - CAPA de Pelotas/RS


Autor(a): Daniele Schmidt Peter
Âmbito: IECLB
ID: 13307
COMUNICAÇÃO
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