Cuidar da alma é servir a Deus
Um dos subtemas da IECLB para 2016 destacava: as pessoas não estão à venda. Esta máxima continua valendo e precisa se perpetuar pelas gerações. As pessoas não podem ser vendidas como / em / para ofertas religiosas, projetos da economia de mercado, tráfico, prostituição e acordos institucionais que violam direitos humanos.
Enquanto cristãos e cristãs, lutaremos sempre contra a mercantilização das pessoas, contra um sistema maligno que desvaloriza a vida ou, utilizando o pensamento do Sociólogo Zygmunt Bauman (1925- 2017), que refuga, denigre e ‘lixifica’ o ser humano.
Nessa linha de pensamento, podemos adaptar o slogan de 2016 na direção da nossa temática: A vida não está à venda... mas o que é a vida? A pergunta pode parecer óbvia, porém é necessário fazê-la constantemente, em especial quando nos confrontamos com notícias (veiculadas em meios de comunicação seculares), tais como: Morador de rua é assassinado, Adeptos de religião de matriz africana sofrem ameaças de morte de evangélicos, Violência e morte de mulheres é cada vez mais frequente, Brasil tem alto índice de homicídios, Depressões gravíssimas levam pessoas ao suicídio.
Diante dessas e tantas outras notícias difíceis de ver e ouvir, como não refletir sobre o conceito da vida, como não lutar até o fim para que a vida prevaleça sempre? Afinal, ela é menosprezada e banalizada diariamente. É por isso que faço questão de escrever: Vida é alma, psique, experiência da consciência e da inconsciência; força interior, força inspiradora que altera estados e emoções, que fomenta percepções, prazeres, reflexões e paixões. É sopro que movimenta, é energia criada e criativa, é a totalidade do próprio eu e do tu. É sangue, presença, existência. É você, sou eu, é o próximo, é Deus, como afi rmam as Escrituras (Jo 11.25).
O Escritor polonês-judeu Adolf Rudnicki (1912-1990), que vivenciou a Segunda Guerra Mundial e trabalhou a temática do Holocausto e da resistência judaica, escreveu: ‘Vivemos em um mundo ameaçado e neste mundo o único valor autêntico que nos resta é a vida, nada mais que a vida’.
Considerando o Lema do Mês (Mt 16.26) e sabendo que o único valor autêntico que nos resta é a vida, quem colocaria tudo isso a perder? Ganhar o que do mundo e perder o que da vida? Ela não está à venda, portanto tenhamos cautela quanto às coisas ou causas às quais nos entregamos de corpo e alma. Avaliemos qual é o limiar entre o ganho e a perda do maior bem ofertado por Deus.
O Filósofo Sócrates, antes da era cristã, já afirmava que mais vale cuidar da alma que das riquezas e felicidade, porque ‘cuidar da alma é servir a Deus’. Aqui está o ponto de encontro entre a vida humana e o desejo de Jesus, qual seja: incluir-nos em sua paixão por Deus e pela vida.
O que Jesus procurava expressar aos discípulos pode ser parafraseado nos nossos dias mais ou menos assim: Vocês têm uma Missão, uma causa, e essa causa se destina a cuidar da vida, assim como eu a tenho cuidado. Se cuidarem como eu a cuido, estarão servindo a Deus, estarão me seguindo e, quem me segue em razão dessa Missão, já ganhou tudo o que o mundo jamais poderia dar.
Essa foi uma temática pesada de tratar, por isso convido você, leitor e leitora, a ouvir a música Cuida com cuidado da Palavra Cantada. A partir de uma linguagem lúdica, continuemos nessa perpétua reflexão sobre a vida! Aí vai um trechinho:
... e o bicho homem?
Tá, vou falar: esse bicho é demorado
Dá um bocado de trabalho danado
Nunca é bastante toda hora todo instante
Precisa de muito cuidado
Cuida com cuidado, da impaciência
Cuida com cuidado, da solidão
Cuida com cuidado, da violência
Cuida com cuidado, da dispersão
Cuidado com o mundo das drogas
Cuidado com a intolerância
... mas sem paranoia
Cuida com carinho
Sem paranoia
Cuida do caminho
Sem paranoia
Cuida com amor
Sem paranoia
Cuida com humor
P. Felipe Milani | Ministro na Comunidade Missionária do Vale do Atibaia (CELVA), em Valinhos/SP
