Quando estou com medo eu confio em ti (Sl 56.3)
Escrevo estas linhas nos dias da enchente no Vale do Rio Taquari/RS. A grande quantidade de chuva em curto espaço de tempo empurrou pessoas para fora das suas casas em meio à pandemia do Covid-19 e do inverno rigoroso.
Rios que naturalmente abastecem povoados, saciando a sede de pessoas e animais e regando as plantações, agora causam destruição, angústia e perda. A nossa oração e a nossa solidariedade se dirigem às vítimas desta grave situação.
Quando criança, eu ia com frequência a um rio. Lembro da fascinação de acompanhar com os olhos a correnteza e os redemoinhos que se formavam.
Na época, rio era sinônimo de perigo. Havia muito mistério debaixo daquelas águas turvas. Talvez o medo tenha me impedido de aprender a nadar, por isso me contentava em banhar-me no raso, na segurança, perto daquilo que conhecia.
Hoje, que tipo de rio atravessamos em nossas vidas? São rios de águas rasas ou águas profundas? Limpas ou turvas? Como essas águas nos encontram e como elas nos deixam? Há algo que a experiência de passar pelas águas turvas de uma pandemia pode nos ensinar?
Continuaremos a viver as nossas vidas no raso, no conforto daquilo que conhecemos e conseguimos enxergar ou aprenderemos a nos banhar também em águas mais profundas?
As profundezas trazem incertezas, dúvidas e, até mesmo, perigos. Não é possível enxergar tudo o que tem lá, mas, talvez, justamente lá encontraremos situações e pessoas que não são visíveis nas águas rasas. É preciso ir até as profundezas, porque tem muita gente vivendo lá.
Não precisamos ter medo, pois a fé nos dá a confiança necessária, como diz o salmista. Além disso, no Batismo, recebemos água da vida. Fica o convite para vivermos as nossas vidas da melhor forma que pudermos, na tranquilidade das águas rasas e na aventura das águas profundas.
P. Dr. Mauro Souza | Pastor 2º Vice-Presidente da IECLB e Assessor para Missão Global e Ecumenismo