Duas famílias que amamos e celebramos

18/10/2009

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A psicóloga Dorothea Wulfhorst sobre a “Família” na sexta-feira, dia 16. “Essa família especial – a família ministerial – e eu acho que até a rima é bem proposital”, disse ela, bem-humorada. “Oportunidade para celebrar nossos jeitos e aceitar nossa falta de jeito e celebrar esta família ministerial, essa colcha de retalhos uniforme e colorida que tem a capacidade de aquecer nossas vidas, nosso ministério, nossas comunidades e nossa IECLB.”

Por outro lado, “deixamos em casa nossa família, que é o brilho, mas às vezes também a lágrima nos nossos olhos! Esta família que trazemos aqui, dentro do coração, presente imensamente precioso que Deus nos deu e que garante não precisar caminhar a sós pela vida”, disse a psicóloga.

É preciso lembrar que dentro da casa de uma obreira e de um obreiro – que hoje ainda são considerados um “bem simbólico” da comunidade – vivem a mulher/o marido e as filhas e filhos. “Eu posso falar com toda propriedade, pois sou filha de obreiro e casada com um obreiro.” Tanto para as/os filhos quanto para as/os companheiros, há ganhos e perdas no modelo de proximidade e intimidade com a comunidade. Proximidade que abriga amizade, hospitalidade, desenvoltura social e cultura, mas também um lugar na berlinda ou na vitrine.

“Um filho de missionário relatou que, ao entrar na sala de aula, a turma toda levantou e gritou em coro: ‘aleluia’. Bem sabemos como especialmente os adolescentes são suscetíveis a esse lugar na berlinda. Uma jovem filha de pastora ficou muito encabulada quando um jovem brincou com ela, dizendo: ‘tu tens mesmo uma cara de Amém’”, lembrou Dorothea.

Quem viveu ou vive nesta proximidade sabe o que se ganha, mas também sabe o que se perde e do que se sente falta. Esta é uma das questões a ser conversada e negociada no seio da família, onde cada qual tem sua personalidade e necessidades diferentes. Achar um denominador comum é um desafio.

Sobre os companheiros de ministros, Dorothea conta que foi muito feliz como esposa de pastor, ainda que muitas vezes sua identidade tivesse sido reduzida a ser mulher de pastor, o que nem sempre foi um bom lugar. “Certamente é um lugar para servir e crescer. Fomos felizes em uma comunidade que estava ávida por crescer na fé e no servir. Nos sentíamos amparados, agradecidos e vinculados.”

As esposas de pastor da época, junto com mulheres diaconisas, diáconas, catequistas e missionárias, preparavam o caminho para o ministério compartilhado. “Abrimos as picadas para estas mulheres que nestes dias vejo com tanto orgulho”, disse. “Com uma identidade mais própria e forte. Finalmente iguais em direitos e deveres, mas com dons e jeitos diferentes.”

Como mudou essa mulher. Às vezes a mesma mulher passou por diversas metamorfoses. “Se hoje temos este espaço devemos a muitas mulheres que também tinham a missão de Deus como paixão.” Quanto aos homens, estes ousaram exercer um novo papel – quase tendo que cair de para quedas em um novo modelo de ser homem, esposo e pai, finalmente sabendo trocar fraldas e limpando a casa. “Vocês são admiráveis.”

No que se refere à família ministerial, esta se encontra em meio a um mundo que muda muito rapidamente. Mudanças acontecem de forma tão rápida que nos desconcertam, e isso vale também para os paradigmas da família ministerial. A globalização não parou e nem respeitou as portas da igreja, da comunidade ou a estruturação das famílias ministeriais. “Isso exige muito diálogo para não errar o caminho e para encontrar novos caminhos, muita humildade, muita oração. O caminho não vem com nenhum mapa pronto.”

É preciso entregar alguns hábitos, preferências e tradições que estão ultrapassados, atrapalham o novo e afastam as pessoas de viver sua fé no HOJE. Além disso, também atrapalham a família ministerial.

Alguém disse certa vez que os ventos que levam algo de que gostamos, mas que não serve mais, são os mesmos ventos que trazem algo que devemos descobrir e aprender a gostar e lidar. “Assim acontece com a antiga hierarquia familiar, a escada patriarcal, onde não havia como se perceber e sentir ‘olho no olho, coração perto do coração’.”

“A mudança também acontece com a antes incontestável autoridade ministerial dentro da comunidade e da família”, avaliou Dorothea. “Devemos ter receio que essa maior proximidade influa no respeito ou na função ministerial?”

Outra mudança lembrada pela palestrante foi que desde que a mulher não segura mais “todas as pontas” na família e na comunidade acontece uma divisão mais equilibrada nas responsabilidades do lar e da família. Desde que a mulher entrou mais fortemente no mercado de trabalho, a família ministerial e a comunidade precisam adequar-se a estas e outras rapidíssimas mudanças.

O pastor Nelso Weingärtner falou a seguir, comentando a palestra de Dorothea Wulfhorst. Além de falar sobre as idéias da palestrante, ele sugeriu alguns pontos concretos para serem pensados e analisados na IECLB: a questão da denominação de ministro e ministra, ao invés de obreiro e obreira, que daria uma maior dignidade e reconhecimento ao profissional; a maior valorização e cuidado dos obreiros aposentados; uma maior liberação dos pastores sinodais para exercerem um papel pastoral junto a obreiros e obreiras, atendendo casos de sofrimento daqueles que são cuidadores das outras pessoas.



Crédito das fotos: Arquivo Presidência da IECLB

 

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