A Convenção Nacional de Obreiras e Obreiros recebeu no dia 15, quinta-feira, de forma entusiasmada, o ex-pastor presidente da IECLB e ex-presidente da Federação Luterana Mundial (FLM), pastor Dr. Gottfried Brakemeier, que abordou o tema “Vocação.
Desafiado a desenvolver uma reflexão teológica e prática, Brakemeier afirmou que o ministério com ordenação na igreja não pode prescindir da vocação. Ela lhe é inerente e carece de confirmação diária. Sem vocação o ministério pode transformar-se em um mero ganha-pão, com risco de se tornar ação mercenária. O ministério confere sentido à vida e precisa ser redefinido constantemente em uma sociedade que passa por grandes transformações.
O ministério tem também uma dimensão profissional e exige capacitação e preparação. Vocação e profissão não se opõem e não podem ser separados.
“Todas as pessoas, criadas como imagens de Deus, são chamadas por Deus para assumir uma parceria de serviço no mundo. O ministério tem como uma de suas atribuições articular o convite de Deus à sociedade humana e lembrá-la desta vocação”, afirmou o palestrante. Os cristãos, por sua vez, são chamados a viver em sua vida profissional (Beruf, segundo Lutero) a dimensão de serviço na sociedade e no mundo.
Na diversidade de dons e carismas presentes na comunidade há espaço para serviços espontâneos e serviços estruturados. Os ministérios com ordenação são de natureza institucional, mas não são criados pela igreja. É Deus quem os implanta. “A igreja apenas lhe dá uma forma. Exerce o ministério quem é legitimamente chamado pela comunidade, a comunhão dos santos, sendo que o ministério tem um caráter público e dele se exige prestação de contas”.
Brakemeier ressaltou que não basta uma mera boa vontade para exercer o ministério. Com o fim de evitar prejuízos ao testemunho público são necessárias várias competências (teológica, missionária, administrativa). “O que se espera sobretudo é paixão e alegria e, na condição de servidores/as, as pessoas chamadas e ordenadas também são desafiadas a renúncias e sacrifícios”, disse.
O compromisso com o Evangelho, mesmo antes do exercício do ministério, leva a um comprometimento com o reino de Deus. Trata-se de um casamento com a fé e não com a comunidade e com a Igreja. “O nosso campo de trabalho é o campo da fé”, afirmou ainda. Cabe aos ministros ajudar no discernimento dos espíritos e apontar o casamento com a fé cristã, evangélica, de confissão luterana. Tudo isso sem batalha espiritual, ameaças e anátemas ou choque de culturas. Importante é aceitar o desafio de contribuir para a construção da paz.
Segundo Brakemeier, não há algo mais empolgante do que a fé e, neste terreno de fácil manipulação, é importante ajudar as pessoas a ter uma diretriz. A fé no Deus Triúno torna-se uma referência em meio a uma sociedade marcada pela derrocada da ética, da idolatria do mercado e violência generalizada.
Coube à pastora Anelise Lengler Abentroth tecer comentários à palestra. Ela analisou os ministérios ordenados sob a ótica de gênero. Ela apontou que existem dificuldades para as mulheres vocacionadas ao ministério na IECLB. Historicamente sempre houve livre trânsito para os homens nas instâncias comunitárias e sempre coube às mulheres a função de auxiliadoras em atividades relacionadas à assistência. “A história da inserção das mulheres no ministério ordenado feminino não tem sido fácil”, avaliou.
Mesmo que a sua inferioridade tenha sido eliminada no o “status religioso” (Gálatas 3.28), ela ainda não atingiu o “status jurídico”. Neste, ainda persiste o poder patriarcal. Torna-se necessário mudar não só a linguagem, mas todo o imaginário e estabelecer novas relações de poder em que a diversidade seja reconhecida.
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