Pa. Marga Rothe - Uma homenagem da APPI

08/09/2010

Inicialmente expresso gratidão por esta oportunidade de poder externar alguns pensamentos num momento tão significativo como este. A Pa. Marga é a primeira mulher, pastora, que recebe esta honraria na IECLB, através da EST. Este reconhecimento público dignifica o ministério pastoral portador do anúncio e vivência da Palavra libertadora de Deus, ao qual a colega tem se dedicado por mais de 30 anos.

A Pa. Marga e eu nos conhecemos em 1987, na então Escola Superior de Teologia. Com um grupo de colegas realizávamos na ocasião o Pró Ministério, requisito para a ordenação pastoral da IECLB. Foram dias especiais e ímpares. Uma das particularidades foi a decisão de assumirmos um jejum de resistência e protesto à forma de realização da avaliação. Este jejum aconteceu durante 3 dias. Mas para Marga, como se não bastasse a tal idéia do jejum, esses dias foram marcados por uma forte pneumonia, tanto que a colega não pode estar com o grupo, compartilhando esses momentos vividos tão intensamente. Mas o fato de ela estar doente não a impediu de se manifestar e dar a maior força para que o jejum fosse encarado com toda a seriedade... E, por mais incrível que pareça, quando finalmente fizemos a avaliação, Marga se juntou novamente ao grupo, com sua saúde restaurada, muito sorridente, esbanjado simpatia e beleza.

Hoje a colega Marga encontra-se novamente neste abraço envolvente da EST, para acolher esta justa homenagem. Para todas nós, pastoras da IECLB, este é um momento de entusiasmo e alegria e, ao mesmo tempo, de profunda gratidão a Deus, nossa guia nessas jornadas que se estendem por tão longo tempo. Trata-se hoje de um gesto de reconhecimento e dignidade, que em humildade precisa ser pronunciado, colocado em público! Palavras não têm a capacidade de expressar o suficiente, ainda assim compartilho alguns sentimentos:

Penso que este é um momento significativo, não somente para a colega Marga, mas para toda a IECLB em sua história pautada pelo serviço junto ao povo de Deus nas comunidades das diferentes regiões deste nosso país, em especial, na região norte, como Belém do Pará. Torna-se relevante não deixar escapar à memória que a atuação da IECLB nestas regiões distantes de sua sede em Porto Alegre, através de pastoras e pastores bem como dos outros ministérios, ajudou a delinear os traços de um novo rosto, que veio a refletir a presença de novos jeitos, através da diversidade de culturas e dons, que convidam para a abertura e o diálogo com diferentes experiências e vivências. Nesta abertura muito se pode avançar também nos caminhos da parceria e da unidade com outras Igrejas e entidades que igualmente se colocam a serviço deste povo marginalizado e sofredor, tenaz em sua luta pela inclusão em todos os âmbitos da vida.

Em sua atuação a colega Marga sem dúvida sempre se deixou guiar pelo desafio que consiste em trazer à luz as vivências específicas de mulheres e de outros grupos oprimidos. Ao fazê-lo estava contribuindo para descortinar as relações significativas de poder, tanto no meio social como eclesial. Colocar-se ao lado das pessoas mais humildes e comprometer-se com os grupos minoritários, trouxe-a também para o desafio de assumir o serviço de ouvidora pública, e através desta tarefa exercer o seu ministério eclesiástico e para além dele.

Contribuição de grande valor também reside no enfoque bíblico-teológico, que a colega tem colocado como prioridade em sua leitura e práxis pastoral. Sob o paradigma da mediação de gênero, com seu referencial e ponto de partida nas vivências concretas que perpassam a vida em todos os âmbitos e determinam as relações cotidianas, as mulheres passam a ser reconhecidas como sujeito teológico, enquanto co-participantes da produção da memória bíblica e, como sujeito social, na resistência ativa às relações de dominação e subordinação das mulheres e demais minorias oprimidas. Através desta ênfase a colega trouxe para a esfera da reflexão a valiosa contribuição que motiva a repensar o modelo eclesiástico androcêntrico, imperante ainda hoje nas igrejas cristãs. Ao mesmo tempo este enfoque tem sido motivador em especial para as mulheres, que se sentiram envolvidas e motivadas a se engajarem no testemunho e na vivência da Palavra de Deus em seu contexto.

Colega Marga, acolha esse gesto de carinho, ainda que grande em reconhecimento pela sua incansável dedicação ao povo de Deus no Estado do Pará, mas também humilde diante da grandeza de Deus, que em sua misericórdia manifesta sua presença libertadora neste mundo.

Que este gesto seja para você um momento carregado de significado especial para você como mulher, como ministra da Palavra, portadora do compromisso de construir com os mais humildes uma vida com dignidade, paz e justiça.

Que o abraço de Deus envolva você com ternura, e que em seu manto você encontre acalanto e novas forças para a continuidade de sua jornada, hoje e sempre. Parabéns por este dia.

Pa. Marli Lutz

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